Sandra Cavalcanti - O Estado de S.Paulo
Tem sido assim desde o começo da nossa História.
É incrível como nossa trajetória é contada! Quem se debruça sobre os fatos fica escandalizado com a diferença entre eles e as suas "consagradas versões".
Esse comportamento fraudulento faz com que, em nosso país, todo historiador seja levado a trabalhar como um arqueólogo, que tem de cavar, raspar poeiras, decifrar hieróglifos e tentar entender os obscuros textos dos pergaminhos.
Sempre na busca da verdade dos fatos.
Para alegria nossa, o Brasil tem sido presenteado com obras estupendas, realizadas por excelentes pesquisadores.
Eles têm conseguido divulgar um conhecimento cada vez mais correto dos fatos da nossa História. E essa tarefa saneadora de desmitificação das versões tem alcançado enorme sucesso de vendas para as editoras.
Está claro que obras desse padrão não constarão jamais da lista dos livros adotados pelos técnicos ideológicos do Ministério da Educação (MEC).
Para eles, quanto mais os brasileiros forem enganados pelas versões oficiais, melhor para a turma que comanda o atraso de nossa formação cultural.
Mas não é apenas nos livros "oficiais" que a nossa História é deturpada.
Fazem parte dessa lavagem cerebral os demais instrumentos de comunicação dependentes do governo.
Rádios e TVs, oficiais ou agregados.
Todos subvencionados generosamente, à custa dos nossos impostos.
No nosso dia a dia somos bombardeados pelas versões que o Planalto divulga sem cessar.
Informações erradas, dados falsificados, episódios distorcidos, explicações mentirosas, enfim, um povo tratado como se todos fossem idiotas e sem nenhum espírito crítico.
Veja-se agora o que está acontecendo com o famoso episódio do mensalão do PT.
Já está quase esquecido!
Foi, no entanto, o mais vergonhoso episódio ocorrido em nossa História recente.
Um plano frio, cínico, típico de um grupo que só tinha um objetivo em suas supostas lutas pela ética e pela moralidade: chegar ao poder e se vingar.
Vingar de quê?
Os autores desse plano eram, e ainda são, indivíduos ressentidos, cheios de raiva contra as "elites" - letradas, bem alimentadas, patrões e chefes.
Para eles, chegar ao poder era a suprema desforra.
Esse tem sido sempre o sentimento da esquerda sem estudos, valores e visão do mundo.
Entre uma esquerda raivosa e uma direita sem escrúpulos, o entendimento sempre se dá muito bem.
A chegada de Lula ao poder mostrou que essa é a mentalidade deles.
Para ganhar a eleição tinha de mudar o discurso?
Era preciso mudar a rota?
O PT não teve dúvidas: mudou.
Mudou, mas chegou ao Planalto com as mesmas disposições de antes.
E mesmo usando as receitas do governo anterior, tratou de vender ao País a ideia de ter recebido uma "herança maldita".
Sempre o mesmo processo de criar versões, apagar os fatos e vender uma "nova História" ao Brasil.
Quando foram apanhados roubando recursos públicos, espalharam que aquilo teria sido um simples "caixa 2".
Não foi!
A Justiça definiu-o como crime de formação de quadrilha.
São 38 réus no processo.
Nestes seis anos, a versão vai vencendo.
A quadrilha do mensalão está de volta ao poder, inocentada pelos seus eleitores.
A última cartada da versão já está na mesa: em agosto prescreve o crime.
Se a denúncia criminal não for feita até lá, teremos uma nova derrota dos fatos.
A desenvoltura dos integrantes da quadrilha do mensalão e da quadrilha do dossiê contra José Serra já vem despertando muitas suspeitas.
Os réus andam muito à vontade nos palácios.
Muitas declarações, muitas aparições públicas, muitas articulações, enfim, muita recuperação de terreno.
Tudo isso leva a crer que está em marcha uma grande manobra para tornar vitoriosa a versão criada pelo então presidente Lula:
"O mensalão não existiu.
Foi tudo armação da oposição"!
Colocar o mensaleiro João Paulo Cunha na presidência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados é mais do que um acinte, é uma ameaça para constranger o Supremo Tribunal Federal.
A presença desenvolta de José Dirceu nos acontecimentos recentes e o seu evidente prestígio junto à ocupante da Presidência da República, tudo isso é uma sinalização mais do que evidente.
Das tentativas feitas para apagar fatos e divulgar versões, essa de Lula é a mais ousada de quantas têm marcado o comportamento dos líderes petistas.
Há dias a Polícia Federal conseguiu terminar o seu relatório a esse respeito.
Entregou o penoso e bem feito trabalho ao procurador-geral da República.
Está, pois, nas mãos dele ajudar na luta entre os fatos e as versões.
Tenho medo.
O mês de agosto não me traz boas recordações.
A tentativa de assassinar Carlos Lacerda.
A morte do major Rubens Vaz.
O suicídio de Getúlio Vargas.
Anos depois, também em agosto, a renúncia jamais explicada, e jamais entendida, de Jânio Quadros.
Renúncia que abriu para Brizola e Jango a tentação de, por golpe e com o apoio de pequeno grupo militar, implantar aqui uma República sindicalista, com a ajuda de Cuba e da Rússia.
Se não fosse o patriotismo da maior parte das nossas Forças Armadas, em 31 de março de 1964 o Brasil teria dado um dos passos mais tristes de sua História.
Mas a tradição de criar versões e negar os fatos não muda.
A mídia tem passado os últimos tempos divulgando exatamente o contrário da realidade.
Na maioria das reportagens, os fatos cederam às versões.
Os golpistas Jango e Brizola são saudados como legalistas.
Os legalistas, que seguiram Castelo Branco e impediram o golpe, são apontados como golpistas.
As Forças Armadas nem podem mais comemorar o 31 de Março!
Que agosto não nos traga desgosto.
Vamos ver o que acontece com os "heróis" do mensalão...
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