sábado, 21 de maio de 2011

Os brasileiros caíram no conto da Copa

Por Augusto Nunes

Em 15 de junho de 2007, numa cerimônia no Palácio do Planalto, o presidente Lula avalizou com um sorriso e aprovadores movimentos de cabeça o palavrório de Ricardo Teixeira, comandante perpétuo da CBF.

“A Copa do Mundo é um evento privado”, garantiu o supercartola.

“O melhor da Copa do Mundo é que é um evento que consome a menor quantidade de dinheiro público do mundo.
O papel do governo não é de investir, mas de ser facilitador e indutor.”


Quatro meses depois, Teixeira repetiu no Rio a manifestação de apreço pelos pagadores de impostos.
“Faço questão absoluta de garantir que a Copa de 2014 será uma Copa em que o poder público nada gastará em atividades desportivas”.

Em 4 de dezembro de 2007, também no Rio, o ministro do Esporte, Orlando Silva, oficializou a promessa com o aval de Lula:
“Os estádios para a Copa do Mundo serão construídos com dinheiro privado.
Não haverá um centavo de dinheiro público para os estádios”.


Três anos e meio depois da discurseira, está claro que os brasileiros foram vítimas do conto da Copa.
Lula queria transformar a festa esportiva em trunfo eleitoreiro.
Ricardo Teixeira queria ampliar o cacife para disputar a presidência da FIFA ─ e continuar prosperando.
Orlando Silva também queria continuar prosperando, e para tanto era necessário convencer os crédulos de que todo delinquente é recuperável.
Como a farra dos Jogos Panamericanos de 2007, que deveria custar R$ 450 milhões, acabara de engolir R$ 5 bilhões, o campeão brasileiro de despesas superfaturadas achou prudente jurar que a Copa sairia de graça.

Conversa de vigaristas, confirmou a performance do ministro nesta quarta-feira.
Com a arrogância dos condenados à impunidade, subiu a voz alguns decibéis e passou a exigir que o governo de São Paulo e a prefeitura da capital arranjem o dinheiro que falta para a construção do estádio do Corinthians.

“Quando você se candidata a receber a abertura de uma Copa, eu imagino que você saiba das responsabilidades que possui”, falou grosso Orlando Silva.

Conforme o combinado, Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab estão investindo R$ 350 milhões em obras no entorno do local onde será erguido o estádio.
O aprendiz de extorsionário acha pouco.

Como a Odebrecht acaba de anunciar que o colosso orçado em R$ 650 milhões vai custar R$ 1 bilhão, quer que os paulistas banquem a diferença.

E invoca o precedente aberto pelo governador Sérgio Cabral, que espetou nos bolsos dos fluminenses a conta da reforma do Maracanã. Deveria custar R$ 600 milhões. Acaba de saltar para R$ 950 milhões.

Como a Odebrecht, o consórcio que age no Maracanã aumentou a gastança em R$ 350 milhões.
A quantia talvez tenha resultado da soma das comissões, propinas e taxas de sucesso.
Até agora, a corrupção era medida em porcentagens.
A bandidagem esportiva pode ter descoberto que fixar um preço para a roubalheira dá mais dinheiro e menos trabalho.

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