Por Márcio Leopoldo Maciel
Ele é um dos maiores sucessos do mercado editorial brasileiro.
Em 2007, segundo dados da Revista Época, seus livros alcançaram 10 milhões de exemplares vendidos.
De acordo com seu editor, eles são usados por mais de 50 mil professores, tanto em escolas públicas, quanto em escolas privadas.
Assim, a dicotomia abaixo é conhecida pela maioria dos estudantes brasileiros.
Antes de ligar o milagre ao santo, vejamos o que o MEC diz sobre um dos livros do autor.
No Catálogo do Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio de 2008, material que auxilia os professores na escolha dos livros didáticos que serão adotados nas escolas, podemos ler o seguinte:
[a obra] problematiza o conhecimento histórico e valoriza a diversidade de possibilidades interpretativas.
É priorizado o ensino voltado para a formação do aluno como um cidadão autoconsciente e crítico.
Há preocupação com a construção da cidadania.
Se as palavras ainda significam o que normalmente significam e se não houve torções semânticas nos termos usados pelo MEC na avaliação, os livros da coleção Nova História Crítica, de Mario Schmidt, desmentem de modo cabal o que vai escrito acima.
Primeiro é importante fazer um esclarecimento: em 2007 houve uma grande polêmica envolvendo os livros de Mario Schmidt.
O diretor da Central Globo de Jornalismo e colunista do Jornal O Globo Ali Kamel escreveu um artigo denunciando a doutrinação ideológica presente no livro Nova História Crítica 8ª série.
Na ocasião, diversos setores da imprensa trataram do tema, entre eles o Estado de São Paulo, a Folha de São Paulo e a Revista Época, da qual extraí alguns dos números citados.
O jornalista Reinaldo Azevedo também deu destaque à polêmica, é dele o crédito pela pesquisa das compras do MEC no ano de 2005.
Olavo de Carvalho, já em 1998, alertava para o conteúdo doutrinário da Nova História Crítica.
A COLEÇÃO NOVA HISTÓRIA CRÍTICA
A linguagem é chula, o maniqueísmo é escancarado, há simplificações grosseiras, deturpações e omissões propositais.
E, claro, muita doutrinação ideológica.
Comecemos pela foto acima, talvez o mais simbólico.
Seria irônico se não fosse trágico constatar que um autor dito humanista e claramente marxista reificou um ser humano para satisfazer seus propósitos ideológicos.
Segundo o MEC, no Guia de 2008, no livro é “priorizado o ensino voltado para a formação do aluno como um cidadão autoconsciente e crítico”.
Temos um problema semântico aqui.
Aliás, dois.
O que significa para o MEC ‘autoconsciente’ e ‘crítico’?
O indivíduo ‘autoconsciente’ é consciente de que?
É uma questão importante.
O problema da palavra ‘crítica’ é pior.
No Dicionário Houaiss, uma de suas acepções é “capacidade de julgar, de examinar racionalmente livre de preconceitos e sem julgamento de valor”, porém, sabemos que ‘crítica’ é usada em alguns contextos pedagógicos como adoção de certo conteúdo ideológico muitas vezes eivado de preconceito e dogmatismo.
Vejam casos citados AQUI.
Um exemplo, Che Guevara aparece associado ao que os jovens normalmente apreciam.
Ardil recorrente nos livros, forçar a crença de que para ser descolado, inteligente e humano é preciso ser de esquerda.
Em um quadro destacado “O QUE PENSAVAM OS JOVENS DOS ANOS 60” (nas entrelinhas: O QUE VOCÊ DEVE PENSAR), Schmidt apresenta seu ideal de jovem.
Ele pergunta:
“O que você estaria pensando se fosse um estudante nos anos 60?”
E responde:
“Provavelmente você seria de esquerda.
Teria lido a História da Riqueza do Homem, de Leo Huberman… Lenin seria sempre citado.
Che Guevara venerado como herói.
Você teria ódio dos EUA, mas desconfiaria que o socialismo soviético era burocratizado.”
E ele termina dizendo:
O problema é que muitos [daqueles jovens] se tornariam, nos anos 90, empresários gananciosos, executivos cínicos…
Aí está o que ser e o que não ser, o que pensar e, principalmente, o que odiar.
Repare como os conceitos são adequadamente apresentados no pequeno trecho abaixo:
ESQUERDA X DIREITA (a definição de Mario Schmidt)
A esquerda é favorável às transformações sociais, está sempre querendo mais direitos para os trabalhadores.
Os Social-Democratas (socialistas reformista) eram de esquerda.
Os comunistas eram de extrema esquerda.
O centro é uma espécie de direita moderada.
A direita é bastante conservadora, repudiando mudanças sociais profundas e dizendo que medidas a favor dos trabalhadores prejudicam a nação.
A extrema-direita defende ditaduras violentas e o fim dos direitos mais elementares do povo.
Os fascistas são de extrema-direita.
São exemplos tão contundentes de doutrinação ideológica que merecem uma análise exaustiva em outro momento.
Mario Schmidt não deixa espaço para incerteza ou contestação.
O marxismo nunca sofreu de humildade epistêmica.
Os críticos da esquerda são apresentados como monstros insensíveis ou idiotas irreversíveis, na maioria das vezes, dignos de escárnio.
Cabe destacar, mesmo sendo uma obviedade, que a ridicularização de personalidades ou de ideias por si só não é convincente; pelo contrário, gratuita, tende a chocar.
É esse aparente rigor científico que “autoriza” o deboche.
Tome como exemplos disso as definições conceituais de esquerda x direita.
O didatismo está apenas na forma, o conteúdo é mera propaganda e desinformação.
A ridicularização como mecanismo de convencimento é uma evidente desonestidade intelectual, mas que estudante é capaz de contestar o professor e o livro didático chancelado pelo Ministério da Educação?
Limitar horizontes nunca esteve entre os objetivos da educação, mas é característica da doutrinação imposta às crianças e aos jovens brasileiros patrocinada pelo Ministério da Educação e recebe o nome absurdo, dado o contexto, de ‘crítica’.
Ora, isso é precisamente o seu oposto.
Esse é o axioma de todas as ditaduras.
Em outras palavras, o povo brasileiro paga para que seus filhos tenham uma educação que pouco qualifica tecnicamente para tentar compreender o mundo, não obstante, forma o “homem pleno”, consciente de meia dúzia de preconceitos e ideias irrefletidas – com o mundo na palma dos cascos.
AMIGOS DA ESCOLA SEM PARTIDO
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