domingo, 5 de junho de 2011
Os Vermelhos do Bem
Por Mirtes Guimarães - Bombeiros do Brasil
O Corpo de Bombeiros é a instituição estadual em que o cidadão mais confia.
Pode ser o tipo de governo que for, pode ser o governador que for que nada interfere na relação de respeito e carinho de uma cidade com o seu Corpo de Bombeiros.
Agora acho que no Rio, até por conta de sua geografia e peculiaridade, esta relação é mais íntima.
Basta a criança começar a compreender o mundo que, ao ir à praia, o responsável apontará para aquele homem de camiseta vermelha e dirá: "se você se perder vá até o posto da salva-vida e peça ajuda”.
Mais tarde, já se achando um “peixe”, certamente levará uma bronca dele por estar na “arrebentação”.
Muito carioca teve um salva-vida como primeiro instrutor de natação.
Além deste lado humano, não podemos esquecer que os bombeiros dos Grupamentos Marítimos do Rio são considerados os melhores do mundo pelo alto índice de salvamentos e baixíssimo de vítimas fatais.
Por mais que os demagogos reclamem quando a imprensa internacional cita isto, a verdade é que no Rio há sim a possibilidade de você topar com animais silvestres ou, muitas vezes, os animais toparem com você.
E adivinha quem retira mico, jacaré, cobra, gambá, gavião, capivara e outras espécies de dentro das casas?
É a mesma pessoa que depois de seu pedido de socorro, irá resgatá-lo de dentro da Floresta da Tijuca, do Parque do Medanha ou das pedras do Pão de Açúcar, Cristo ou da Pedra da Gávea em uma escalada mal planejada.
Até algum tempo até podar árvores era função dos bombeiros.
Além disso, o Rio tem um histórico de grandes enchentes com tragédias ainda maiores.
Há cicatrizes não só na alma como também nos morros.
Água deslizando das montanhas como cachoeiras, lama descendo das encostas e ambas levando junto vidas são imagens que, em menor ou maior escala o carioca, independente da idade, já presenciou.
E claro que em cada uma das vezes que isto ocorreu, lá estavam os bombeiros não só trabalhando, mas também se solidarizando e chorando com a população.
E não podemos esquecer o óbvio: que entre uma e outra ação descrita acima, os Bombeiros também apagam incêndios.
Alguém pode até lembrar que eles são pagos para isto e, portanto, não fazem mais do que obrigação.
A questão é que eles são mais do que bons profissionais.
Eles sofrem e riem com o carioca e por isto ele não é visto como um profissional.
Ele é o melhor amigo da cidade.
Por isso, no sábado, dia 4, a cidade ficou chocada com a violência e truculência com que eles foram tratados.
Pode-se até discutir a invasão ao QG Central.
Mas nada dá o direito de deixarem eles mais de 12 horas sem comida, mal acomodados e sem acesso a advogados.
E o pior de tudo, não há como aceitar a maneira como o governador os classificou.
Chamá-los de vândalos e tratá-los como o Estado não trata criminoso algum foi das coisas mais deprimentes e revoltantes que a cidade já presenciou.
O Rio e seu melhor amigo não mereciam isto.
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