sexta-feira, 10 de junho de 2011

PT, de Palocci a Delúbio

Fernando de Barros e Silva, Folha de S. Paulo

Ex-prefeito de Guarulhos, o secretário-geral do PT, Elói Pietá, publicou um artigo sintomático no site do partido.
Chama-se "O PT e a crise do ministro Palocci" e só veio à luz depois da sua queda.
A pretexto de fazer um balanço do episódio, dá uma versão bastante fantasiosa do que é o PT, embora, por isso mesmo, deva agradar boa parte da sua militância.

Segundo homem na hierarquia petista, Pietá se diz espantado com a "origem dos ganhos privados", a "magnitude dos resultados" e "o alto padrão de vida que ele (Palocci) se concedeu".
E arremata: "Defender a vida modesta para políticos vindos da vida modesta das maiorias é para o PT uma das condições indispensáveis para comandar o processo de distribuição de renda e inclusão das multidões excluídas".

Ou seja, ao fazer a apologia do ideal de vida franciscano, Pietá parece condenar Palocci menos pelas suspeitas que cercam os seus negócios que por traição de classe, por cultivar, nas palavras dele, "o ideal de empresários".
Palocci ficou rico -este é, afinal, seu maior pecado.

É óbvio que esse partido de hábitos espartanos, diferente dos outros ou refratário ao capital, só existe na cabeça do autor.
O petismo está integrado à realpolitik há muito tempo.
Já concedeu tudo no campo ético.
Os empresários, de quem Pietá prega que tenham "a devida distância", fazem fila para financiar candidatos petistas.
Aliás, depois que o PT descobriu o capitalismo, os tucanos parecem gerentes de fábrica.


Talvez fosse o caso de perguntar o que o autor pensa da vida modesta de Lula como palestrante.
Sim, Lula é um caso único, mas é também o grande exemplo -ou não?

A atitude de Palocci seria mais condenável que a farra dos mensaleiros?

Pietá não toca no assunto, mas é o que a leitura de seu texto pode sugerir.
Muitos petistas ainda pensam que a "boa causa" justifica ou enobrece a lambança.
Ou seja: faltam a Palocci a consciência de classe, o compromisso claro e a altivez de um Delúbio Soares.

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