Percival Puggina
Quando a CNBB, organização que congrega o episcopado brasileiro, ergue sua voz para defender a família, a vida humana desde a concepção, a educação religiosa, a preservação das tradições cristãs da sociedade (aí incluídos o respeito ao descanso dominical, feriados e símbolos religiosos), eu me ponho a pensar...
De qual lado do espectro político vem chumbo grosso contra tudo isso?
Qual ou quais os partidos mais avessos a essas posições essenciais à missão da Igreja?
O mais mal informado dos leitores não hesitará um segundo antes de cravar a resposta certa às duas perguntas.
Dez para todo mundo.
Impõe-se, no entanto, um outro par de indagações.
Com quais partidos e instituições o leitor considera a CNBB mais estreitamente identificada?
A qual lado do quadrante ideológico pertencem tais órgãos e movimentos?
Novamente, dez para todo mundo.
Se a nota do leitor é dez, o conceito da CNBB perante tamanha contradição há de andar um pouco abaixo disso.
Com efeito, não parece sensato nem compatível com a missão eclesial o apoio da organização àqueles que mais atacam os valores cristãos.
Perante tal disparate, é possível que o leitor comece a repensar as respostas anteriores.
"Será que respondi certo antes?
Terei sido induzido ao erro?".
Isso nos leva a propor a prova dos nove para verificação do raciocínio que estou desenvolvendo: quantas vezes, nos últimos anos, o leitor encontrou na imprensa alguma crítica desses partidos e/ou organizações à CNBB?
Vamos lá.
Pense bem.
Puxe pela memória.
Nada?
Veja que temos como objeto da busca organizações que não poupam adversários!
Pois é, se marcou "nenhuma", o leitor cravou, de novo, a resposta certa e óbvia.
Nunca aconteceu isso, apesar de esses segmentos jamais serem condescendentes com quem se atravesse no caminho de suas propostas ou projetos.
A coisa fica ainda mais grave porque os mesmos setores vivem clamando que o Estado é laico, que a moral cristã não pode pretender espaço nas normas que incidem sobre a vida social, que os símbolos religiosos têm que ser retirados dos lugares públicos, que o Papa é um retrógrado e que a Igreja é um dos males da humanidade.
Mas contra a CNBB, nem um pio!
O nome disso é parceria.
É companheirismo.
E torna inevitável a constatação: a imagem da CNBB está associada a uma corrente política avessa à sua missão.
Essa não é uma questão pequena, nem recente, nem vazia de sentido moral.
Bem ao contrário.
Para a CNBB, desde os anos 70 do século passado, a convergência ideológica supera em significado e importância a divergência moral e religiosa.
Antes que alguém saia com o clássico - "Isso é o que você diz!", vale lembrar que em fins de dezembro do ano passado, falando aos bispos brasileiros do Sul III e IV, quando com ele estiveram em visita ad limina, Bento XVI os advertiu para “o perigo que comporta a assunção acrítica, feita por alguns teólogos, de teses e metodologias provenientes do marxismo, cujas sequelas mais ou menos visíveis, feitas de rebelião, divisão, dissenso, ofensa e anarquia fazem-se sentir ainda, criando, nas vossas comunidades diocesanas, grande sofrimento e grave perda de forças vivas”.
Não sou só eu quem diz.
A CNBB está ao lado dessas correntes.
A elas convergem suas pastorais sociais.
Com elas se alinham os desvios doutrinários propostos pela Teologia da Libertação.
Com elas andam a CPT, as CEBs, o CIMI, as CFs, bem como muitos de seus documentos e estudos.
Com elas a CNBB se engaja em promoções nacionais, como foi a campanha pelo calote da dívida externa, e pela limitação, em 20 módulos, da extensão das propriedades rurais.
Procede, enfim, como o Chapeuzinho Vermelho que levasse o Lobo Mau pela mão até a casa da vovozinha.
* Artigo publicado originalmente na Revista Voto, edição de junho de 2011
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