domingo, 19 de junho de 2011

Segredos e pecados

Por Mary Zaidan -

Sigilo.
Essa é a palavra da semana, do mês.
Na verdade, uma das prediletas dos governos Lula e Dilma, e dos petistas.
Eles mesmos, aqueles que outrora, antes das alegrias e agruras do poder, defendiam transparência e - pasmem - decência na coisa pública.
De algum tempo para cá, tudo passou a ter a sombra do sigilo.

Da insistência do ex-ministro Antonio Palocci em manter segredo sobre as empresas que lhe garantiram a espetacular fortuna da noite para o dia ao estupro, pelo mesmo Palocci, da conta bancária do caseiro Francenildo.

Da quebra do sigilo fiscal de tucanos à demissão de uma funcionária de quinto escalão, com mais de 20 anos de serviço, sem que qualquer chefe ou mandante tenha sofrido um único arranhão.

Das pernas que se bambeiam diante dos ex-presidentes José Sarney (o dos atos secretos do Senado) e Fernando Collor e fazem com que a ex-revolucionária Dilma Rousseff mude de opinião e avalize o sigilo eterno de documentos de Estado.

Nesse paraíso de absurdos, só faltava mesmo assegurar o sigilo dos preços das obras com o selo Copa do Mundo e Olimpíadas.
Estrago feito pela Câmara dos Deputados ao aprovar o texto básico da Medida Provisória 527, que cria a Secretaria de Aviação Civil.

"Se você começa a divulgar cada valor (da obra) a cada momento você vai criar uma insegurança muito grande", diz o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP).
Um raciocínio que, com muita boa vontade, pode, no mínimo, ser considerado torto.

A presidente Dilma vai mais longe: diz que todo mundo entendeu errado, que o modelo é consagrado em outros países e teve o aval dos órgãos de controle.
Não é o que o Ministério Público Federal acha.
Muito menos o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que considerou a MP “escandalosamente absurda”.
(...)

Foi nessa árvore de galhos tão generosos que se pendurou o Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC).
Plantado por Lula em 2010, o texto original caiu por prazo.
Depois, integrou sem sucesso outras três MPs.
Agora, parece frutificar, consagrando a permissão para pecar.

(...)

O Brasil foi escolhido para sediar a Copa 2014 em outubro de 2007.
De lá para cá, pouco ou quase nada foi feito.

Aprovar a RDC é coroar a incompetência, a inépcia.
Cria-se uma lei de exceção, premia-se o improviso, inibe-se a fiscalização.
E abre-se a porta do céu para os inescrupulosos.

Ao contribuinte, resta a conta do inferno.
Íntegra no blog do Noblat

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