segunda-feira, 6 de junho de 2011

Sócios na crise

No blog do Noblat


Dizer que o problema é só dele, que Dilma desconhecia os seus negócios e que nenhuma crise abala o governo, foi sem dúvida a fórmula esperta encontrada pelo ministro Antonio Palocci para nos próximos dias sair de cena alegando ter prestado um último e relevante serviço à sua chefa e ao PT.
Mas a fórmula não resiste a um exame superficial.

O problema de estar sob suspeita de ter enriquecido fazendo tráfico de influência seria só de Palocci se ele não fosse quem é – ex-arrecadador de recursos da primeira campanha presidencial de Lula, ex-ministro da Fazenda, ex-deputado federal, ex-coordenador da campanha de Dilma e chefe da Casa Civil da presidência da República.

A velhinha de Ribeirão Preto pode até acreditar que Palocci não cometeu nenhum deslize.
Mas como homem público deve satisfações à sociedade.
(...)

Ao contrário do que possa ter imaginado, Palocci deixou Dilma em situação desconfortável ao dizer que ela ignorava os seus negócios.
Primeiro porque é difícil acreditar que ele tenha dito a verdade.
Segundo porque se disse, tem-se que Dilma nomeia ministros sem ao menos reunir informações sobre sua vida pregressa.

Gente indicada pelo PMDB para postos do governo gostaria de ter merecido o mesmo tratamento conferido a Palocci.
Por que não?

Se Dilma não soube antes e não procurou saber depois como Palocci enriqueceu de maneira tão súbita, foi duplamente relapsa, sinto muito.
Faltou com o dever de cercar-se de cuidados na escolha dos seus auxiliares.
É o mínimo que se espera de uma pessoa investida de tamanha responsabilidade.

Por omissão, acabou se tornando sócia de Palocci na primeira grave crise que abala seu governo.

O “fator Palocci” paralisa o governo há mais de 15 dias.
Um governo, por sinal, que anda devagar, quase parando, e ainda repleto de cargos a serem preenchidos.
(...)

A crise protagonizada por Palocci serviu para iluminar alguns pontos frágeis da administração Dilma até aqui tolerados com base no entendimento universal de que todo começo de governo é difícil.

O principal ponto: o estilo Dilma de governar.
Outro: sua inaptidão para a política.
Outro ainda: o perfil baixo, quase rasteiro, da equipe que montou.


Dilma continua sendo a centralizadora de sempre.
Por temperamento ou falta de experiência, ou pela soma das duas coisas, não gosta e não sabe tocar o jogo rotineiro da política, indispensável para quem deseja manter os apoios conquistados.
Não descobriu que compartilhar o poder não significa obrigatoriamente abrir a porta para a corrupção.

Quase todos os ministros morrem de medo de ser destratados por ela.
São menos ministros, capazes de formular políticas e de defendê-las com desassombro, e mais serviçais temerosos e obedientes.


A Dilma serena é uma invenção da mídia.
Outro dia, mandou que Palocci telefonasse para Michel Temer, o vice-presidente, anunciando que ela romperia com o PMDB se a bancada do partido na Câmara votasse a favor de uma emenda ao novo projeto do Código Florestal.

Como achou que Palocci conversara com Temer num tom ameno, ordenou que telefonasse novamente e que dessa vez fosse mais duro.
Ouviu a conversa no viva-voz.

Coitado do substituto de Palocci!

É por isso que aos poucos se dissemina nos meios políticos de Brasília a opinião, por ora apenas sussurrada, de que a crise de fato atende pelo nome de Dilma.

Talvez seja um exagero. Talvez ainda seja muito cedo para se concluir isso.

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