Merval Pereira, O Globo
A indicação de Paulo Sérgio Passos para assumir em caráter definitivo o Ministério dos Transportes foi acertada em telefonema da presidente Dilma para o senador Blairo Maggi, dando por encerrada a desavença entre o Executivo e o PR, um de seus mais importantes aliados no Congresso.
O secretário-executivo do ministério, que era o preferido da presidente, acabou sendo acolhido pelo PR, ao qual é filiado, como sua indicação, e tudo continuará na mesma.
Passos é um técnico, mas está no mesmo lugar desde 2004.
Difícil dizer que ele não sabia de nada do que ocorria sob as suas barbas no posto privilegiado que ocupava.
O que parecia um movimento da Presidência da República para limpar a área dos Transportes, dominada pelo PR desde o início do primeiro governo Lula e sempre sob acusações de corrupção, não passará de aparência, com o partido continuando a controlar a área.
E as práticas descritas por Blairo Maggi na entrevista que concedeu a Jorge Bastos Moreno, no GLOBO de ontem, continuarão acontecendo.
Segundo o senador, que é o padrinho político de Luiz Antonio Pagot, o diretor-geral do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) que deixou o cargo sob suspeita de corrupção, o que encarece as obras são os aditivos colocados depois que o preço é fechado pelas empreiteiras.
É como se a pessoa comprasse um carro standard e depois quisesse acrescentar um som, ar-condicionado e vidro elétrico.
Claro que quando o comprador vai efetuar o pagamento, o preço já não é mais o mesmo, esclareceu Blairo Maggi candidamente, como se precisasse.
Ao explicitar o que todos já desconfiavam — que os preços são inflados durante a construção das obras —, o senador governista está revelando também o perigo de a lei de licitações permitir aumentos ilimitados no preço das obras, como o governo queria no Regime Diferenciado de Contratações.
Pela lei atual, o custo da obra só pode ser aumentado em 25% com aditivos, sendo que se for uma reforma, como é o caso das estradas, por exemplo, o aumento pode chegar a 50%.
A versão corrente no PR é que todos os aditivos foram aprovados pela Casa Civil — onde quem mandava era a própria Dilma Rousseff, na versão eleitoral corresponsável pelo governo Lula — ou pelo Ministério do Planejamento, onde estava o ministro Paulo Bernardo.
A situação no Congresso está de vaca não reconhecer bezerro.
O velho dito popular nordestino é sempre invocado quando a crise política, como agora, parece fora de controle.
(...)
Há o depoimento hoje em uma comissão do Senado de Luiz Antonio Pagot, que, acusado de práticas ilícitas, ninguém sabia até ontem se estava demitido ou de férias.
O acordo parece indicar que ele deporá no Senado na condição de técnico em férias, e as ameaças veladas de que Pagot poderia abrir o bico não se concretizarão.
Fará um depoimento técnico que não comprometerá ninguém, e a vida continuará.
Mas a sensação de que ninguém está no comando continuará a dominar a cena política.
(...)
A ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, depois de afirmar que Nascimento não teria condições de participar da escolha do sucessor, deu uma declaração estapafúrdia dizendo que o governo era "solidário" a Nascimento.
Como se ele tivesse saído do ministério por decisão da oposição.
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