O Estado de S.Paulo
A presidente Dilma Rousseff não escapou do ressentimento da base parlamentar do Planalto por ter preferido esperar que o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, titular do mal chamado Partido da República (PR), se enforcasse nas próprias cordas, em vez de fazer a coisa certa para demonstrar a sua intransigência com a corrupção, qualquer que fosse o preço a pagar: afastar o ministro juntamente com os seus quatro auxiliares diretos suspeitos de cobrar propinas e superfaturar obras pagas pela pasta.
Mas, ao poupá-lo, além de tornar a ser vista como vacilante, Dilma não escapou das críticas dos chamados aliados.
"O ministro não merecia esse desenlace", reclamou um deputado da sua legenda.
"Isso terá consequências", previu o presidente de outra sigla governista, inconformado com a demissão dos quatro suspeitos sem consulta a Nascimento.
Afinal, ele teve de se demitir, anteontem, quando novos escândalos mancharam o seu já carregado prontuário.
Na mesma quarta-feira, O Globo revelou que uma empresa de seu filho Gustavo Morais Pereira cresceu colossais 86.500% em seis anos - de R$ 60 mil para R$ 52,3 milhões. (...)
Além disso, o site do Estado revelou que o então chefe de gabinete da pasta, Mauro Barbosa, um dos afastados por Dilma, constrói em Brasília uma casa que deverá custar-lhe cerca de R$ 4 milhões.
E, completando a safra de escândalos do dia, em um dos 74 inquéritos abertos para apurar desvio de verbas no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), a Polícia Federal apurou que um sobrinho do deputado federal João Maia, outro republicano, cobrava pedágio de 5% dos valores pagos a uma empresa prestadora de serviços ao órgão.
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Sabe-se hoje que sua ministra da Casa Civil não estava pisando nos astros, distraída, enquanto se perpetrava o assalto ao trem pagador do Ministério dos Transportes.
Já não vem ao caso imaginar o que ela fez ou deixou de fazer pelo patrimônio público posto ao alcance dos lobos.
Mas dois fatos atuais não podem ser deixados de lado.
Um é que, ao assumir a Presidência da República, prometeu ser implacável com a corrupção.
O outro é que a corrupção continuou solta e pesada nos Transportes até que a imprensa a expusesse.
Nessa hora, no fim da semana passada, a presidente teve a chance histórica de iniciar uma cirurgia radical na pasta para livrar-se da "herança maldita".
Em vez de aproveitá-la, preferiu manter o ministro e entregar-lhe a apuração das traficâncias praticadas a um palmo do seu nariz.
Depois, em zigue-zague, mandou suspender as licitações por ele aprovadas, enquanto as ministras da Casa começavam a tratá-lo como um morto-vivo.
A presidente, em suma, deixou passar a primeira hora da verdade da sua gestão.
A segunda já ressoa pela voz dos dirigentes do PR que não abrem mão do seu feudo e advertem que Dilma terá de se entender com o caído Nascimento para a escolha do sucessor.
Se ela sucumbir à chantagem, já não fará muita diferença para a sua imagem se convidar de uma vez para o cargo o próprio Valdemar Costa Neto.
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