Carta de Dilma a FHC não chegou ao Museu da República
Exposição sobre o período republicano mostra Fernando Henrique como um presidente que 'vendeu o Brasil' e Lula como o redentor da nação
Cecília Ritto, do Rio de Janeiro
Depois de oito anos de megalomania lulista, a presidente Dilma Rousseff aproveitou os 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para devolvê-lo publicamente ao lugar de destaque na história recente do Brasil.
Em carta aberta, Dilma definiu FH como “o ministro arquiteto de um plano duradouro de saída da hiperinflação e o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica”, e lembrou “o espírito do jovem que lutou pelos seus ideais, que perduram até os dias de hoje”.
A grandeza de espírito da carta não chegou a uma instituição importante, que tem como sua principal missão a guarda da história do Brasil republicano.
No Museu da República, instalado no Rio de Janeiro no histórico Palácio do Catete, uma exposição que pretende contar a história da república brasileira apresenta Fernando Henrique como um presidente que se aproveitou eleitoreiramente do Plano Real, promoveu privatizações que “venderam o Brasil” e conseguiu sua reeleição comprando votos de deputado e senadores no Congresso Nacional.
O ex-presidente Lula, ao contrário, tem sua trajetória acompanhada desde o regime militar, como o líder operário que resistiu à ditadura, enfrentou a repressão e perdeu três eleições, até conseguir chegar à presidência, lugar que lhe era destinado.
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A concepção geral da mostra, que tem curadoria da historiadora Maria Helena Versiani, é bem tradicional.
Em todas as salas, a ideia é a mesma.
Textos curtos estampados nas paredes, muitas fotos, alguns objetos e poucos comentários.
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Mais do que as palavras, no entanto, o que marca a diferença de tratamento entre FH e Lula é a iconografia.
O período de 1994 a 2002 é ilustrado por fotos burocráticas e charges contrárias à privatização.
“Se privatizar, o Brasil vai rachar”, diz uma.
Em outra, alguém diz a FH:
“Presidente, não consigo achar o Brasil”.
Ele responde: “Claro que não... Eu vendi”.
Enquanto isso, o louvor a Lula aparece na foto da grávida que escreveu na barriga “Lula eu te amo”, em uma pequena garrafa na qual um artesão nordestino desenhou com areia a imagem de Lula e de Mariza Letícia e escreveu: “Luiz Inácio Lula da Silva, a nação brasileira te ama.”
Penduradas no teto, bandeiras do PT, do PDT, do PCdoB, do PMDB, do Movimento dos Sem Terra e da Força Sindical coroam a euforia lulista da República Cidadã.
Para o historiador e professor do departamento de ciências sociais da UFSCar Marco Antônio Villa, o discurso pró-Lula está contaminado pelo espírito do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) da época de Getúlio Vargas, o último presidente a morar no Palácio do Catete.
“Essa história que começa no dia 1º de janeiro de 2003 não faz sentido em um museu oficial que pretende contar a história republicana.
É uma leitura religiosa e, no fundo, reacionária”, afirma.
A exposição está programada para ocupar o terceiro andar do museu por mais, pelo menos, cinco anos.
A diretora da instituição, Magaly Cabral, que além das credenciais profissionais exibe a de mãe do governador Sérgio Cabral, diz que não percebeu qualquer desequilíbrio no tratamento dispensado a FH e Lula.
Mas pondera que a exposição “não é apolítica”.
Segundo ela, no entanto, uma exposição de tão longa duração pode e deve sofrer modificações.
Uma leitura da carta de Dilma a Fernando Henrique poderia ser um bom começo.
AQUI.
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Esse Marco Antônio Villa tá ficando queimado já; espero que o estejam pagando bem (e devem estar) porque daqui a pouco vão precisar de outro analista "isento" para dar opiniões sobre tudo - cujo sentido de todas é, de antemão, conhecido.
ResponderExcluir=)