Miriam Leitão, O Globo
A ideia é ruim, mas o pior é a justificativa: a de que se o Pão de Açúcar se juntar ao Carrefour, o BNDES deve dar a maior parte do dinheiro — 2 bilhões — porque isso vai internacionalizar grupo brasileiro e abrir mercado para os nossos produtos.
Balela.
Essa ideia é ruim para o consumidor, para o contribuinte e para a economia do país.
O que é desanimador no Brasil é a dependência que até os novos capitalistas têm do Estado.
Eles não dão nenhum passo sem que o governo vá junto, não apenas financiando, mas virando sócio.
Um capitalismo sem riscos, ou de lucros privados e prejuízos públicos.
Sempre foi assim, mas quando se vê um Eike Batista e um André Esteves, que poderiam ser a renovação dessa velha prática, repetindo os mesmíssimos caminhos que nos levaram a tanto problema no passado, a conclusão é que pelo visto o país vai demorar muito para chegar no verdadeiro capitalismo.
É um disparate completo o BNDES usar o dinheiro de dívida pública ou de fundos públicos para capitalizar uma operação estritamente privada.
Ela será boa para o Carrefour, para os Diniz e para o BTG Pactual.
Não é verdade que o Pão de Açúcar será internacionalizado e vai virar um grupo global.
Ele vai ter um pedaço de um grupo francês, que será vendido no dia em que a família Diniz quiser vender.
O Pão de Açúcar vai deixar de existir como empresa independente e será desnacionalizado.
A família Diniz é dona do negócio e faz o que bem entender — e o que as regras concorrenciais do país permitirem — mas que não se venha com nacionalismos de ocasião.
A conversa de internacionalização do grupo não convence.
O BTG Pactual também pode montar a operação que quiser no mercado.
O estranho é por que um grupo que tem condições de captar no mercado internacional precisará que o BNDES entre de sócio e dê até R$ 4,5 bilhões para o negócio.
O grande perdedor será o consumidor brasileiro, que tem enfrentado uma concentração cada vez maior do grande varejo.
(...)
Nos últimos anos o Tesouro já se endividou em R$ 260 bilhões — incluindo os R$ 30 bilhões deste ano — para financiar o BNDES nas suas operações.
E elas fazem cada vez menos sentido.
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