quarta-feira, 27 de julho de 2011

Marcha dos Indignados


Artigo de Hélio Duque
No blog do Senador Álvaro Dias


O jornal espanhol “El País” é referência mundial de credibilidade.
Na edição de 7 de julho, o jornalista Juan Arias, seu correspondente no Brasil, publicou extensa matéria: “Por qué Brasil no tiene indignados?”.

Nele a passividade e omissão na aceitação da corrupção nos negócios públicos e privados é o núcleo central.
A pergunta é emblemática e revela um triste tempo brasileiro.

A liturgia da corrupção brasileira se estruturou em sólida aliança público-privado, com falsa roupagem pseudo ideológica.

Os que se autoproclamavam progressistas e símbolos da ética, em vertiginosa ascensão econômica e social, entendem que mobilização política contra a corrupção é conspiração de direita.
Seria falso moralismo em favor das elites exploradoras.

Grande parte dessas mesmas elites constitui o braço corruptor, privatizando o Estado em favor dos seus negócios, através a contratação das milionárias consultorias de figuras carimbadas com livre trânsito na estrutura do poder.
Cultivam São Dimas, o padroeiro dos ladrões arrependidos.


O artigo de “El País”, em linguagem simples e de fácil entendimento deve merecer reflexões dos brasileiros honrados.
Transcreverei, no original, partes do texto:

1. “Es que los brasileños no saben reaccionar frente a la hipocresía y falta de ética de muchos de los que les gobiernan?
Es que nos les importa que los políticos que les representan, en el Gobierno, en el Congressso, en los estados e en los municípios, sean descarados saboteadores del dinero público?
Se perguntan no pocos analistas y blogueros políticos.
Ni siquiera los jóvenes, trabajadores o estudientes han presentado hasta ahora la más mínina reacción ante la corrupción de los que les gobiernan.”

2.”Brasil, después de la dictadura militar, se echó a la calle con motivo de la marcha “Directas ya”, para pedir la vuelta a las urnas, símbolo de la democracia.
También lo hizo para obligar al expresidente Collor a dejar su cargo ante las acusaciones de corrupción que pesaban sobre él.
Pero hoy el país está mudo ante la corrupción em curso.
Las únicas causas capaces de sacar a la calle hasta dos millones de personas ahora son los homosexuales, los seguidores de las Iglesias evangélicas em la fiesta de Jesús e los que piden la liberalización de la marihuana.”

3. “En un mundo globalizado, donde se conoce al instante todo lo que ocurre en el planeta, empezando por los movimientos de protesta de millones de jóvenes que piden democracia o le acusan de estar degenerada, lo brasileños no luchan para que el país, además de ser rico, también sea más justo, menos corrupto, más igualitário y menos violento a todos los niveles.
Así es el Brasil que los honestos sueñan dejar para sus hijos, un país donde la gente todavia no há perdido el gusto de disfrutar de lo poco o mucho que tiene y que sería aún mejor si surgiera un movimiento de indignados, capaz de limpiarlo de las escorias de corrupción que golpean a todas las esferas del poder.”


Com maestria, o articulista ao propor a marcha dos indignados indica o caminho que deveria trilhar uma sociedade que vive estática e letárgica.

Enquanto os enriquecimentos meteóricos de homens públicos, a corrupção generalizada, alimentada pela mediocridade cada vez mais ousada, tornam-se acontecimentos normalíssimos.

O manto cívico da imoralidade é uma bofetada na face do brasileiro honesto e trabalhador.
Contempla horrorizado a grande maioria da classe política divorciada dos interesses da sociedade.
Expressada nos mensalões, no loteamento de cargos, na manipulação lesiva do patrimônio público em benefício privado.

Semana passada, em Salvador, o advogado Saul Quadros Filho, presidente da OAB-BA, traduziu com objetividade o por quê da não indignação:

“Nos últimos anos a sociedade brasileira ficou mais fraca, e o Estado ficou mais forte;
não foi ela que o tornou mais transparente; foi ele que a tornou mais opaca.
E em vez de se aperfeiçoarem os mecanismo de controle desse Estado, foi esse Estado que encabrestou entidade da sociedade civil.
Impõe-se um movimento contra a corrupção”.

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Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Foi Deputado Federal (1978-1991).
É autor de vários livros sobre a economia brasileira.

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