segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Blindagem com carimbo oficial

Planalto dá aval para blindar ministro do PMDB, ao contrário do tratamento dispensado ao PR
Adriana Vasconcelos e Luiza Damé - O Globo

Ainda às voltas com as mágoas provocadas pela faxina promovida no Ministério dos Transportes , e avaliando não ter condições políticas de abrir um novo contencioso com sua base parlamentar, o Palácio do Planalto decidiu apoiar a blindagem que o PMDB montou em torno do ministro da Agricultura, Wagner Rossi.

O ministro, para se manter no cargo, foi obrigado a acertar a demissão do secretário-executivo da pasta e seu amigo há mais de 25 anos, Milton Ortolan, alvo de denúncias de corrupção apresentadas na última edição da revista "Veja".

Por isso mesmo, a cúpula peemedebista decidiu guardar sua artilharia contra o PT, até se certificar de que as denúncias não terão desdobramentos que comprometam a imagem do partido.

- O governo tem confiança no ministro e na capacidade dele de esclarecer todas as situações que apareceram na reportagem - confirmou ao GLOBO a ministra Gleisi.

Comunicado divulgado neste domingo pela Secretaria de Imprensa da Presidência confirmou o sinal verde para a blindagem:

"A presidente Dilma Rousseff reitera a sua confiança no ministro da Agricultura, Wagner Rossi, que está tomando todas as providências necessárias", diz o comunicado.

Dessa forma, o governo deixa claro que não pretende dispensar ao PMDB, hoje seu principal aliado no Congresso Nacional, o mesmo tratamento dado ao PR no caso da faxina no Ministério dos Transportes.

Após perder o controle dos Transportes e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), o PR já percebeu que o governo adotará outra estratégia com os peemedebistas - embora os dirigentes do partido avaliem que as denúncias contra a gestão de Rossi sejam muito mais robustas.

O PR argumenta que elas foram acompanhadas de depoimentos de funcionários e empresas, e até mesmo de fotos que comprovam a atuação do lobista Júlio Fróes na Agricultura, que teria tido seu acesso liberado na pasta por Ortolan, braço direito do ministro.

- O governo não é louco de fazer com o PMDB a mesma coisa que fez com o PR.
Senão, está morto
- observou um dos líderes do PR.

Diferença de tratamento aumenta rancores no PR

Essa diferença de tratamento, por si só, pode alimentar ainda mais os rancores dos parlamentares do PR em relação ao governo.

Para o líder do DEM, senador Demóstenes Torres (GO), a presidente Dilma "amarelou diante do PMDB":

- A presidente não teve coragem de enfrentar o PMDB.
Ortolan é um homem de confiança do ministro Wagner Rossi há 25 anos.
É óbvio que o ministro está enrolado até a tampa.


A oposição sabe que, se o PMDB se sentir ameaçado, as dissidências na base poderão aumentar.

Não é à toa que o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), vem segurando a votação de um requerimento do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) que propõe a convocação do petista Expedito Veloso - que poderá ressuscitar o escândalo dos aloprados se confirmar que o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, teve participação na operação de compra de um dossiê contra o tucano José Serra em 2006.


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