Por Reinaldo Azevedo
O tal pacote para incentivar a indústria tem uma coisinha boa aqui, outra ali, mas, essencialmente, nasce de uma irresolução.
Vamos ver.
No domingo, almocei na casa de um amigo.
Entre os presentes, estava um banqueiro, de banco de investimento, não de varejo.
Trata-se de uma figura notavelmente culta, agradável, e há, sei lá, uns 50 assuntos mais interessantes a debater do que taxa de juros.
Mas também falamos sobre taxa de juros.
Se ele é banqueiro, isso quer dizer que, vamos simplificar um pouquinho, “compra e vende” dinheiro — já que banco, não importa a sua natureza, não fabrica a grana, certo?
Num dado momento, não resisti e indaguei:
“Existe alguma razão que explique a taxa de juros do Brasil?”
Ele sorriu, meneou um tanto a cabeça e afirmou:
“É, a poupança interna precisava ser maior, o governo gasta demais, há uma política muito centrada no consumo, mas…
Não! Não existe!
Isso é uma loucura!”.
Alguém poderia indagar:
“Mas por que ele não fala isso em público?”
Ora, se o gerente da lojinha, o Guido Mantega, e a diretora, a Dona Dilma, acha que há, que as coisas são assim mesmo, não será um banqueiro a expressar publicamente a sua divergência.
Ficaria parecendo falta de gratidão.
A crise americana deve trazer mais dólares ao Brasil porque o prêmio que se paga aqui é estupidamente mais alto do que em qualquer outro país do mundo, e isso vai valorizar o real ainda mais.
Haja compensação aos exportadores!
Mas não é o principal: os juros elevados incidem sobre toda a economia; o país continua a ser um dos campeões mundiais de tributação, o que também vale para todo mundo.
O pacote do governo elege alguns setores para conceder benefícios, e os demais continuam a pagar a conta dos juros e da carga tributária.
Segundo esse meu conviva de almoço, uma boa saída seria fazer um plano consistente de corte de gastos — o governo vai ao mercado porque precisa se financiar —, com credibilidade, conter de forma mais efetiva o consumo e baixar, sim, a taxa de juros, já que não há razão, dados os indicadores da economia, para que ele seja não um pouquinho, mas muito mais alto do que a que se pratica no resto do planeta.
O tal pacote industrial é só uma transferência de responsabilidade, um empurrar com a barriga, um melzinho que está sendo passado na boca de parte do empresariado, que, assim, fica ainda mais dependente do estado-patrão.
Trata-se de uma forma de deixar tudo como está para ver como é que fica.
Sem contar que, no fim das contas, as compensações todas acabam sendo feitas pelo Tesouro.
A sociedade como um todo paga a conta dos juros e paga também a proteção a alguns setores escolhidos pelo governo.
E resta aos que não foram contemplados reivindicar a inclusão no modelo.
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