sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Gentil Pátria Amada

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte - MG


O florão da América, ao comemorar os 189 anos de sua Independência, cobriu-se de verde-amarelo e de outras cores, com a inclusão de outros valores e patrimônios imateriais da cultura brasileira.

Vestiu-se também de preto.

O 17º Grito dos Excluídos, congregando movimentos e pastorais sociais, ganhou um pouco mais de sonoridade com o movimento de combate à corrupção que, historicamente, assola instituições na sociedade brasileira.

É uma lamentável pandemia que entranha facilmente e, confortavelmente, se hospeda na cultura, isto é, nos hábitos e costumes, até nos mais elementares.
A consequência é o comprometimento da cidadania que o Dia da Pátria poderia celebrar como conquista e comprovação de grandes e contundentes avanços.

As nulidades ainda estão triunfando com força de perpetuar atrasos e um modus vivendi que, justificados como cultura - na verdade uma subcultura, ou melhor, uma contracultura -, impedem avanços, mais rapidez e inteligência estratégica para geração de cenários novos enquanto superação da deficitária situação habitacional, a erradicação da miséria e, particularmente, uma configuração mais nítida e incidente da cultura da solidariedade.

Essas e outras demandas, com suas urgências, precisam incontestavelmente de uma modificação significativa na realidade da corrupção que envenena projetos, compromete programas, corrói o erário público, aumenta a indiferença que anula o sentido, o comprometimento social e político das cidadanias.

Além de estratégias perversas - o uso equivocado da razão, que faz pouco efeito em função da cegueira produzida pela ganância e pelo incontido amor ao dinheiro -, estão incluídos outros agentes perniciosos que fortemente contribuem para complicar a solução deste enigma moral.

É lamentável e desolador constatar a condição de refém que instituições importantes na sociedade têm experimentado como uma verdadeira camisa de força, impeditiva de avanços essenciais e de velocidade no parâmetro da rapidez que esta segunda década do terceiro milênio pressupõe para que não se perca, ainda mais, o trem da história.

A incompetência é um destes agentes.

Na verdade, é comum encobrir a incompetência com uma consciência de si que está, ridiculamente, além dos desempenhos mostrados em tarefas, funções e missões.
Aliás, não se consegue introduzir tão facilmente o mecanismo de avaliação de desempenho.
A resistência é sempre grande.
Avaliar é oportunidade de, por diálogos e medições, refletir competências.

Pode revelar o blefe de aparências e faz de conta.
Esse mal assola todas as instituições.
As religiosas, como as políticas, governamentais e sociais estão vivendo esse problema.

Constata-se um agravante disfarçado num tipo de crítica pejorativa que se põe como defesa de mediocridades e sustento de lideranças frágeis na condução de processos e nas respostas a exigências de transformações mais profundas e rápidas.

Este cenário, configurado também com outras nuanças, aponta que só o diálogo pode abrir um caminho novo.
Esse entendimento inclui, de maneira inteligente, supondo a postura crítica, a possibilidade de um julgamento que desvenda complexidades, permite encontrar soluções novas e respostas adequadas.

Ora, crítica em diálogo não é discurso rasteiro próprio de magoados, de amantes do poder perdido, dos amargurados e dos que adotam arbitrariedades para conseguir, a qualquer preço, um lugar ao sol.

O sentido de pátria na cidadania, exigência própria e conduta indispensável de cada cidadão, indica a premência da elaboração de uma definição mais apurada da crise ética que se está vivendo, atingindo frontalmente a direção que alavanca a vida no rumo correto para se perceber os riscos dos relativismos que emolduram a cidadania e a vida contemporânea.

A complexidade da realidade, gerada pela lista incontável de demandas, exige um debruçar-se sobre ela, não apenas com o critério, por exemplo, do mercado que produz, incontestavelmente, a erosão das relações básicas e inegociáveis.
Exige-se a pinça afiada da ética para enfrentar adequadamente as crises como a ecológica, humana, de sentido e exercitar a cidadania na desafiadora assimetria que caracteriza a vivência da solidariedade - um remédio urgente e indispensável visando o futuro, não tão mais caótico, da sociedade.

A escuta do clamor dos pobres - exercício do verdadeiro e indispensável sentido social e equilíbrio no campo político - para além das aberrações diárias no âmbito da representação do povo, e o luto que caracteriza a indignação indispensável contra a corrupção, produz avanços para que seja realidade a referência gentil pátria amada.

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