Por Reinaldo Azevedo
É sob pressão que pessoas, partidos e até instituições revelam a sua real natureza.
O 4º Congresso do PT, que começou ontem e termina hoje, está prestando um grande serviço ao país e à política.
Os petistas revelam que não aprenderam nada nem esqueceram nada depois de nove anos de poder.
Continuam os autoritários de sempre, decididos a substituir a sociedade pelo partido, conforme seu projeto original.
Quem presta um pouco de atenção à história das idéias não está surpreso.
O petismo é um descendente do bolchevismo no que concerne à organização da sociedade, entendendo que a nação deva ser conduzida por um ente que decide em lugar dos cidadãos, porém adaptado — e como! — aos tempos modernos.
Para o modelo, que ainda está em construção, pouco importa se os petistas estão ou não oficialmente no poder: eles sempre estarão por intermédio dos fundos de pensão, dos sindicatos, do aparelhamento das estatais.
O petismo é um fascismo de esquerda.
No que concerne à ordem econômica, tudo vai muito bem para os companheiros, até porque têm como seu principal aliado o capital financeiro, que não quer saber a cor dos gatos desde que eles cacem ratos.
O curioso embate que se dá no Brasil é entre a esquerda financeira, financista e rentista, com a qual os petistas compuseram, e a direita assalariada, que trabalha.
Chamo de “direita” aqui, para deixar claro, as pessoas que ainda se ocupam de alguns dos velhos (!) e bons fundamentos das sociedades liberais:
* liberdade individual,
* igualdade perante a lei,
* incentivo ao empreendedorismo,
* estado enxuto, tudo o que parece hoje fora de moda.
Os petistas não querem mexer no “sistema”.
Ao contrário: pretendem reforçá-lo por meio, por exemplo, de uma reforma política estúpida, que extrema todos os males do modelo vigente.
Só uma coisa incomoda o PT: o regime de liberdades públicas que se respira no país.
Isso eles não podem suportar.
Então um partido ganha uma eleição — ou três… ou dez —, e ainda há gente na imprensa que se atreve a criticá-lo, que não concorda com suas ilegalidades, que resiste às suas tentações e práticas totalitárias, que não se submete a seus desejos e vontades?
“Mas a gente não conquistou nas urnas o direito de fazer o que bem entende?”, eles se perguntam espantados.
E a resposta, evidentemente, é “Não!”
Eles conquistaram nas urnas A OBRIGAÇÃO de seguir as regras do estado de direito, de se submeter à lei, de nos servir por intermédio de um mandato, que pode ser revogado numa nova eleição ou mesmo num processo de impedimento.
Com a reportagem que revelou as lambanças de José Dirceu em Brasília, VEJA denunciou mais do que as lambanças do “consultor de empresas privadas” — poderoso chefão de um “governo paralelo” e sua mímica asquerosa de chefe de máfia —; a revista denunciou um método.
E os petistas estão infelizes.
Em outros tempos, eles mandariam empastelar a publicação, fariam quebra-quebra, perseguiriam os profissionais, exigiriam a demissão desse ou daquele, lotariam os porões do regime com essa gente recalcitrante…
Hoje eles se civilizaram; pretendem perseguir seus desafetos por meio de instrumentos legais.
O texto do PT que volta a pregar o controle da “mídia” expõe como nunca a natureza do jogo.
Eles até se mostravam dispostos a condescender com a democracia desde que nós não fizéssemos uso efetivo dela.
Era como se dissessem:
“Nós garantimos a sua liberdade, mas a condição é que não nos incomodem”.
Aí não dá! Figurões do partido como Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, e Ideli Salvatti, ministra das Relações Institucionais, defenderam ontem a “regulamentação da mídia”.
Os fascistas de esquerda descobriram o gosto pelo capitalismo, mas não viram graça nenhuma na liberdade, que será sempre a liberdade de quem discorda de nós.
Mas vão perder.
É crescente o número das pessoas que lhes dizem:
“Não, vocês não podem.
Não podem porque estamos aqui”.
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