Fernando de Barros e Silva, Folha de S. Paulo
Patrícia Poeta - "Como a senhora controla esse toma lá, dá cá, digamos assim, cada vez mais sem cerimônia das bancadas? Como é que faz esse controle?".
Dilma - "Você me dá um exemplo do dá cá e eu te explico o toma lá".
Poeta - (Fica muda, sem jeito).
Dilma - "Tô brincando contigo".
(Ouvem-se ao fundo as gargalhadas da claque que acompanhava a presidente no Palácio do Planalto).
Este foi o momento mais revelador da entrevista que o "Fantástico" levou ao ar anteontem à noite.
É óbvio que a presidente não estava brincando quando, num impulso, inverteu os papeis e colocou Poeta numa saia justa.
Diante da falta de reação da entrevistadora, com o domínio da situação, Dilma faz um gesto para tirá-la das cordas e retomar o tom amistoso da conversa.
As risadas dos áulicos da presidente, no entanto, funcionam como um eco da humilhação imediatamente anterior, amplificando-a.
No conjunto, beneficiada pelo clima ameno, dominical da entrevista, Dilma conseguiu uma proeza: agradar àqueles petistas para quem o discurso da faxina é uma conspiração dos conservadores contra o governo e, ao mesmo tempo, àqueles setores que acreditam que ela está, de fato, combatendo a corrupção, com o discurso de que isso é uma tarefa diuturna e sem fim, que não basta só "uma faxina".
Até quando Dilma conseguirá se equilibrar nesse personagem que é mais fictício do que real?
Até quando terá êxito essa sua atitude ambivalente, de afirmar e negar a faxina, de querer se apropriar do bônus que isso traz à sua imagem sem arcar com o ônus que uma política mais séria traria ao seu governo?
A política brasileira está estruturada na base do toma lá, dá cá.
O lulo-petismo universalizou a fisiologia que um dia quis enfrentar.
A base aliada está repleta de saqueadores do bem público.
Essa é a argamassa que lhe dá coesão.
Combater essa gente a quem o PT se mistura com gosto não significa demonizar a política, mas o contrário.
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