O Chefe
Lula foi chefe de governo e de um bando.
Em janeiro, só deixou de chefiar o governo
Por Augusto Nunes
Foi Lula quem propôs a Dilma Rousseff a permanência de Orlando Silva e Wagner Rossi, a nomeação de Antonio Palocci, a recondução de Alfredo Nascimento e a anexação do Ministério dos Transportes ao latifúndio de José Sarney, um Homem Incomum.
Dilma conhecia todos muito bem. (“Melhor que eu”, disse Lula mais de uma vez).
Apesar disso, ou por isso mesmo, a presidente eleita convocou os cinco prontuários para o primeiro escalão.
Proposta de chefe é ordem.
Quando se descobriu que o estuprador de contas bancárias também é traficante de influência, o ex-presidente baixou em Brasília para assumir o comando da contra-ofensiva dos pecadores.
Como a mão estendida a Palocci acabou num abraço de afogado, foi para o exterior ganhar dinheiro com o ofício que inaugurou: é o único palestrante do mundo que cobra 100 mil dólares para repetir durante 40 minutos o que sempre disse de graça.
Escaldado pelo fiasco, o protetor de bandidos de estimação passou a agir à distância.
Se dependesse dele, Alfredo Nascimento, Wagner Rossi e Pedro Novais ainda estariam infiltrados na Esplanada dos Ministérios.
Nesta terça-feira, numa conversa por telefone com Orlando Silva, Lula lembrou ao companheiro que os quatro despejados continuariam no emprego se tivessem seguido à risca as prescrições da Teoria do Casco Duro.
E recomendou ao ministro pilhado em flagrante que resista no cargo.
O Código Penal, normas éticas, valores morais, o sentimento da honra, pudores, vergonha ─ nada disso tem importância para o inventor do Brasil Maravilha.
Lula só consegue enxergar duas espécies de viventes: os integrantes da seita que conduz e o resto.
Os primeiros são absolvidos liminarmente de todos os crimes que cometem.
Os outros são inimigos ─ e como tal devem ser tratados.
O informante do Caso Watergate que ficou famoso como Deep Throat avisou que a dupla de repórteres do Washington Post chegaria à verdade caso seguisse o dinheiro.
Para chegar-se à fonte da impunidade que afronta o Brasil decente, basta seguir os afilhados em apuros.
Todos levam ao mesmo padrinho.
Durante oito anos, Lula acumulou a chefia do governo e a chefia de um bando.
Em janeiro, só deixou de chefiar o governo.
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