sexta-feira, 21 de outubro de 2011

É mais profundo

Ninguém minimamente esclarecido pode nutrir qualquer dúvida quanto ao envolvimento do PCdoB nos desvios de recursos, através de ONGs de fachada, nesse triste episódio do Ministério dos Esportes.

Todos sabemos que os ministros indicados por esse partido, primeiro Agnelo Queiroz, hoje governador do Distrito Federal, e depois Orlando Silva, que será demitido, aparelharam a pasta e seus instrumentos, seguindo estratégia partidária.

Segundo relata o Estadão, o PCdoB estaria ameaçando Dilma: se Orlando cair, Agnelo, que se mudou de armas e bagagens para o PT, irá junto.

O aparelhamento é tão notório e enraizado, que o presidente da sigla, Renato Rabelo, declarou a O Globo que “o PCdoB não vai piscar primeiro, não fazemos acordos assim. Vou falar para a presidente: o ministro é seu”.

Chega a ser impressionante. Claro que o cargo pertence a Dilma e não ao partido. Evidente que ela terá de demitir Orlando Silva, se quiser preservar o mínimo de autoridade sobre seus outros aliados e diante da opinião pública.

Os escândalos no Ministério dos Esportes são tantos, que o justo teria sido Lula não ter nomeado Agnelo e Dilma não ter renovado a confiança em Orlando.

Milhões e milhões de reais que deveriam iniciar crianças carentes na prática esportiva tomaram o rumo torpe da corrupção. ONGs fictícias, renovação de convênios com o próprio João Dias, que puxou a ponta do iceberg, denunciando ações supostamente desonestas do ainda ministro.

Denúncias dando conta de que o ex e o atual titulares da pasta receberam dinheiro de propina entocados em garagens. Um quadro insustentável, enfim.

Agora compreendo porque a base governista tanto boicotou a CPI das ONGs, que teve como relator um senador comunista. Nada andava. Nenhuma quebra de sigilo relevante. Nenhuma convocação que pudesse trazer luz sobre a podridão ora desnudada pela ação do delator João Dias e pela vigilância dos órgãos de comunicação deste país.

Nós não sabíamos exatamente o que se poderia encontrar na CPI. Mas eles sabiam, com precisão, dos motivos que tinham para varrer a investigação para debaixo do tapete.


Arthur Virgílio é diplomata e foi líder do PSDB no Senado

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