segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Nova política velha

Miriam Leitão, O Globo

A política econômica mudou.
Ela foi mudando devagar como aquela água que vai esquentando e o sapo não percebe.

Começou discretamente em 2005; a crise de 2008-2009 foi entendida como licença para mudar; a disputa eleitoral ampliou o relaxamento fiscal e agora com as recentes guinadas já se pode dizer que não é a mesma política econômica dos últimos 18 anos.

O sistema de metas de inflação foi flexibilizado para se aceitar um pouco mais de inflação; o regime fiscal só fecha na meta quando há receitas extraordinárias ou truques contábeis; o fechamento comercial está no discurso supostamente nacionalista e nas medidas que se apresentam como defesa do emprego.

A política mantida desde 1994 deu ao país crescimento, inflação baixa, inclusão social, ampliação do mercado consumidor, e o grau de investimento.

Mesmo adversários na arena política, o governo Fernando Henrique e o primeiro governo Lula foram complemento um do outro.

No segundo, o governo começou a sair lentamente das premissas que mantiveram a estabilidade.
Esse caminho é perigoso e velho.

Na área comercial, a escolha de setores e os privilégios das montadoras são equívocos bem conhecidos do Brasil.

O economista José Márcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos, alinha os sintomas dessas mudanças.

— O IPI dos automóveis é uma volta à economia fechada que protege um setor empresarial com tarifas.
O Plano Brasil Maior é um projeto típico dos anos 1970, em que o país protege e subsidia setores escolhidos pelo governo
— diz Camargo, lembrando que a indústria automobilística no Brasil tem 70 anos e não consegue competir com a coreana, que tem 30 anos.
(...)

— Não é um momento simples.
O que preocupa é essa tendência da política econômica de reverter a melhoria institucional que vem desde os anos 90.
O ponto é que temos uma arrecadação tributária de 37% do PIB e o país tem déficit nominal de 2%.
O Estado consome 39% do PIB e presta serviços péssimos.


Em 2005, quando a então chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, impediu a proposta de déficit nominal zero, por achar que era rudimentar, a política econômica estava começando a fazer a guinada para mais expansionismo fiscal.
A chance era aquela, porque 2005, 2006, 2007 e 2008 até setembro foram anos bons, de crescimento, de mais arrecadação e o país poderia ter feito esforço maior para ajustar as contas, derrubar juros e perseguir metas menores de inflação.

Naquele momento a escolha foi não avançar em reformas, mudanças, aceitar a reprodução da mesma meta de inflação e continuar expandindo gastos.

A crise de 2008-2009 produziu a escalada do intervencionismo estatal e a escolha de setores beneficiados pelo BNDES, que passou a ser financiado por recursos de endividamento.

Tudo lembra fortemente a politica econômica do governo militar dos anos 1970.

Nos primeiros meses do governo Dilma o projeto de volta para o passado ganhou musculatura.

É preciso derrubar mais os juros, e eles são a última fronteira da economia anormal que o Brasil teve até que a dupla Itamar Franco e Fernando Henrique mudaram o país.

O problema é fazer isso tirando a âncora, como disse ontem em artigo magistral neste jornal o economista Rogério Werneck.
(...)
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