segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O pupilo

Artigo de Mary Zaidan

Com ajuda escancarada da propaganda oficial do Planalto, a máquina eleitoral do PT começa a ajustar o foco na cidade de São Paulo, onde o ex-presidente Lula quer eleger prefeito o seu mais novo protegido, o ministro da Educação Fernando Haddad.

Para o público externo, invencionices como a de aumento da carga horária no Ensino Fundamental - atribuição exclusiva de estados e municípios e que já existe na rede pública paulistana, por exemplo -, garantem palanque e mídia.

E a publicidade do governo federal lota o rádio com mensagens sobre creches e uma nova leva de universidades, ainda que muitas das que foram entregues na gestão anterior estejam às traças.

Dentro do PT, a ordem é calar qualquer um que se oponha à escolha do ex.
De preferência, afastando a hipótese de prévias, uma louvável tradição estatutária que, agora, o PT quer jogar no lixo.

Mesmo que se mostre acertada a estratégia de buscar sangue novo para a disputa no maior centro urbano do país, para colocá-la em prática Lula volta a mostrar sua verdadeira cara, desta vez sem qualquer constrangimento.

Não esconde o velho coronel que habita sua alma, que detém o saber, que manda e a quem todo mundo diz amém.

E ai de quem desafiar o poderoso chefão.
São expulsos ou escanteados.
Sempre foi assim.

Um dos símbolos do PT, Eduardo Suplicy caiu em desgraça após disputar prévias com Lula.
Marta terá fim semelhante se insistir em bater chapa com o escolhido do rei.

No passado, os expurgos se diziam ideológicos.
Por votarem em Tancredo Neves contra Paulo Maluf no colégio eleitoral que marcou o fim da ditadura militar, o PT colocou para fora os deputados Beth Mendes, Airton Soares e José Eudes.
A ex-prefeita Luiza Erundina amargou a expulsão branca ao ser suspensa por 12 meses porque aceitou ser ministra no governo de união nacional de Itamar Franco.

Em novos tempos, os que saem o fazem por vergonha do que o PT se tornou.

Foi assim com históricos como Hélio Bicudo, Chico Alencar e Plínio Arruda Sampaio, e, em 2010, com a mineira Sandra Starling, que prefeiru deixar o partido a se aliar ao PMDB de Hélio Costa e Newton Cardoso.
Até frei Betto, amigo e confidente do ex, tem, desde 2004, se mantido à distância.

Lula já ganhou tudo ou quase tudo: elegeu-se presidente por duas vezes, impôs, treinou e fez a então desajeitada candidata Dilma Rousseff tornar-se a primeira mulher a dirigir o Brasil.
Mas pouco influiu nas vitórias de Erundina e Marta.

Festejado dentro e fora do país, venceu na vida e na política.
Só não ganhou em São Paulo, que continua entalado em sua garganta.
Resta saber se o pupilo será palatável.
Íntegra no blog do Noblat

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