terça-feira, 8 de novembro de 2011

Fundo do Poço

Agreste sente o baque e venda cai

Autor(es): Por Murillo Camarotto | De Santa Cruz do Capibaribe (PE)
Valor Econômico


O Moda Center Santa Cruz parece um shopping. Abriga milhares de lojistas, tem praça de alimentação, estacionamento amplo, imenso logotipo acima da porta principal e muitos seguranças carregando rádios comunicadores.
O Moda Center Santa Cruz também parece uma feira de rua. Abre às 4 horas da manhã e é cheio de garotos empurrando carrinhos de mão, em busca de um frete remunerado.

Apesar do perfil indefinido, é tratado como o maior shopping atacadista de confecções do Brasil.

Fica no município de Santa Cruz do Capibaribe, um dos mais importantes do polo de confecções do Agreste de Pernambuco, envolvido recentemente no escândalo de importação de lixo hospitalar americano.

Ainda digerindo o baque causado pelo episódio, os mais de 10 mil comerciantes-sócios do Moda Center estão prestes a fechar o primeiro ano de queda nas vendas.
(...)

Elisângela de França viaja há sete anos de Pio XII (MA) para Santa Cruz do Capibaribe, em uma saga de 1.500 quilômetros.
Em 2011, as visitas, que eram quinzenais, passaram a ocorrer a cada 30 dias.
O volume de compras também diminuiu consideravelmente.

"Caíram muito as vendas na minha cidade.
Minhas clientes lá dizem que não têm dinheiro"
, contou ela.

O apetite menor dos visitantes foi citado por quase todos os lojistas ouvidos pelo Valor.
Eles apontaram quedas de até 50% nas vendas em relação ao ano passado e já prevêem um Natal bem mais magro.

"Em outubro caiu muito, uns 50%.
Mas não foi só aqui, caiu em todo canto.
O povo está devendo muito",
afirmou Mário Vieira, que vende bermudas a R$ 6 a unidade.

Apesar do reajuste de 10% nos custos da matéria-prima, ele manteve o preço para não perder ainda mais clientes.
Já Flávio Antonio da Silva, que comercializa vestidos, reduziu de R$ 15 para R$ 12 o preço da peça, mas também não adiantou. "O movimento continua bem mais fraco", queixa-se.

Os comerciantes garantem que o episódio do lixo hospitalar não afetou significativamente as vendas, que já estariam perdendo o fôlego antes do ocorrido.
A importação de lixo hospitalar americano para Pernambuco está sendo investigada pela Polícia Federal, que abriu inquérito para apurar as operações realizadas pela empresa NA Intimidade, de Santa Cruz do Capibaribe.
(...)

A causa mais citada pelos atacadistas para o recuo das vendas foi o endividamento da população.

Também foi este o motivo pelo qual a sacoleira Niedja Campos Ferreira diminuiu a aquisição dos vestidos que revende no comércio popular do Recife.

"Muitas clientes minhas simplesmente sumiram.
As outras estão pechinchando demais, como nunca"
, reclamou.

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