De interlocutor a “informante”
Por Marina Amaral e Natalia Viana, no Observatório da Imprensa:
Fomos surpreendidas pela polêmica gerada por uma “notícia” publicada em um blog e reproduzida em grandes portais da internet de que o jornalista William Waack, da TV Globo, seria “informante” da embaixada americana - revelação que estaria dentre os documentos diplomáticos obtidos no ano passado pelo WikiLeaks.
A notícia se espalhou pela internet, com grande repercussão nas redes sociais e no twitter.
Chegou até mesmo ao site americano HuffingtonPost.
Alguns veículos reportaram ainda que Natalia Viana, uma das diretoras da Pública, como “representante do WikiLeaks no Brasil” teria confirmado tal informação.
Dois equívocos: a jornalista Natalia Viana, não é, nem nunca foi, representante do WikiLeaks no Brasil.
E não concordamos de modo algum que os documentos do WikiLeaks qualifiquem Waack como “informante” dos americanos.
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Cultivar fontes
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Em nenhuma passagem dos documentos se pede que a fonte (Waack) seja protegida - sinalizada pela observação de “please protect” (favor proteger) - que, nos documentos diplomáticos dos EUA, indicam fontes que passam informações relevantes, de bastidores ou internas.
Há uma passagem dúbia em que se pode pensar que Waack é chamado de “insider”, mas nada na conversa aponta para o fato de ele ser mais do que um jornalista com algumas especulações sobre o futuro da disputa eleitoral.
O simples fato de um político, jornalista ou empresário ir até à embaixada ou ao consulado americano não significa que ele seja considerado um informante pelos diplomatas dos EUA.
Como sabem diplomatas e jornalistas, representantes estrangeiros se reúnem o tempo todo com pessoas do país para se informar, sentir o que pensam determinados setores, para afinar sua visão sobre a política ou a economia do país; é esse o seu trabalho.
Do mesmo modo, não se pode criticar políticos ou jornalistas por se aproximarem dos diplomatas, também com o objetivo de buscar informações ou cultivar fontes que possam trazer novidades sobre as relações bilaterais.
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Nada mais normal. Culpar um jornalista por ter conversado com um embaixador é como punir um mecânico por estar com as mãos sujas de graxa.
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Do mesmo modo, o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu criticou Lula e o PT em um encontro com o ex-assessor do Departamento de Estado americano Bill Perry, isentando-se de responsabilidade pelo esquema que ficou conhecido como mensalão; e o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, do PT, notório crítico da atuação americana e advogado de diversos integrantes do MST, contou bastidores do PT e do MST ao cônsul americano em São Paulo.
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Não há nada de novo no ar. Todos os documentos diplomáticos do WikiLeaks referentes ao Brasil estão disponíveis ao público desde julho deste ano. Dica da Pública: basta acessar o site www.cablesearchnet.orge buscar por palavra-chave para formar sua própria opinião sobre assunto.
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É hora, como dizemos na agência Pública, de deixar a polêmica vazia de lado e buscar os fatos.
Íntegra AQUI.
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