Um quinto da nova classe média não se reconhece como tal
Pesquisa divulgada pela CNA mostra os problemas que atingem essa camada da população
Geralda Doca - O Globo
De cada cinco pessoas da nova classe média (que reúne 20,9 milhões de brasileiros), uma não se reconhece como parte desse segmento.
Além disso, tem uma percepção negativa sobre emprego, apresenta menor escolaridade e acesso a bens e serviços e está endividada.
Os dados são de uma pesquisa qualitativa divulgada nesta quinta-feira pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA), que dividiu a classe média em três subsegmentos: a classe média tradicional, a classe média mais e a classe média menos.
É neste último grupo que se concentram os problemas.
Ao todo, duas mil pessoas, com renda entre R$ 1,2 mil e R$ 5,2 mil, foram entrevistadas.
- Apenas 8% dos enquadrados na classe média menos responderam que compraram casa própria ou reformaram a moradia;
- somente 7% disseram que estão podendo oferecer melhor educação para os filhos
- e 6% conseguiram ou melhoraram de emprego.
Na classe média mais, 19% dos entrevistados compraram imóveis; 15% estão tendo condições de educar melhor os filhos e 13% conseguiram emprego.
Também nos quesitos emprego com carteira assinada, empréstimo em banco, abertura de negócio próprio e viagem a lazer de avião, as diferenças persistem.
O levantamento concluiu que um terço dos incluídos na classe média menos tem restrições de compras no Serasa.
Foram enquadrados na classe média tradicional 41% dos entrevistados; na classe média mais 39% e na classe média menos, 20%.
Os critérios utilizados foram renda, escolaridade, autoclassificação e percepção de melhora.
O cientista político Antônio Lavareda avaliou que os incluídos na classe média menos ainda estão muito próximos da renda anterior, têm baixo nível de escolaridade e, portanto, ainda estão muito vulneráveis.
Ele defende que o governo trate de forma diferenciada a nova classe média dentro das políticas públicas.
— Não basta apenas comemorar a chegada das pessoas à classe média.
Uma boa parte dessas pessoas requer cuidado especial — disse Lavareda.
Segundo ele, o alto nível de endividamento dessas pessoas revela que o acesso a bens e serviços foi obtido com dívidas.
Ele disse que a baixa escolaridade impede esse segmento de disputar uma vaga no mercado de trabalho em condições mais igualitárias.
A solução, disse, é investir em educação e na formação profissionalizante (escolas técnicas).
A presidente da CNA, senadora Kátia Abreu, destacou que a nova classe média, embora represente 55% da população brasileira, consome apenas 30% do total de bens e serviços produzidos no país.
(continua)
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