Ricardo Noblat
É no que dá falar sem pensar antes. Falar sem estar suficientente informada. Ou sair em defesa de um amigo querido esquecida de que o amigo não é mais uma pessoa qualquer - é um ministro de Estado, obrigado a dar o bom exemplo.
E esquecida de que ela também não é mais uma pessoa qualquer - é simplesmente a presidente da República, a servidora pública número um, de quem se espera um compromisso rígido com o bom senso e a decência.
Porque se ela não se incomoda em afrouxar tal compromisso quem mais haverá de se incomodar?
Dilma disse há dois dias que Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, não deveria comparecer ao Congresso para dar satisfações sobre seu passado como consultor de empresas.
Tratava-se de sua vida privada quando ele não exercia mandato. E a vida privada de Pimentel somente a ele pertencia.
Mancada, dona Dilma. E das feias.
Pimentel é um homem público há muito tempo.
Exerceu a função de consultor quando havia deixado a prefeitura de Belo Horizonte e se preparava para disputar o governo do Estado ou uma vaga no Senado.
Sabia-se que ele estava destinado a ser ministro caso a senhora fosse eleita.
E foi o que aconteceu.
Sem essa de que entre a prefeitura e um novo emprego ele estava livre para fazer o que bem entendesse.
Estaria livre, como qualquer pessoa está, para agir conforme manda a lei.
Pimentel diz que deu consultoria para três empresas e a Federação das Indústrias de Minas Gerais.
Com as três empresas firmou contratos de boca.
A Federação informa que ele fez palestras em suas unidades regionais.
O Globo procurou as unidades regionais e elas não se lembram de Pimentel como palestrante.
Dedução mais do que óbvia: Pimentel ganhou por palestras fantasmas.
Dona Dilma continua achando que ninguém tem nada a ver com isso simplesmente porque ele não exercia mandato?
Para ela não faz diferença que um ministro do seu governo tenha cometido malfeitos antes de assumir o cargo?
Que lógica é essa? Que princípios são esses?
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