Governo abandona transposição do São Francisco após eleição de Dilma
Reportagem do 'Estado' percorreu trechos do empreendimento que impulsionou vitória no Nordeste e constatou deterioração de obras, concreto rachado e vergalhões abandonados
Eduardo Bresciani e Wilson Pedrosa, Enviados especiais, FLORESTA (PE)
O Estado de S.Paulo
Cenário de propaganda eleitoral da presidente Dilma Rousseff e responsável por parte de sua expressiva votação recebida no Nordeste, a transposição do Rio São Francisco foi abandonada por construtoras e o trabalho feito começa a se perder.
O Estado percorreu alguns trechos da obra em Pernambuco na semana passada e encontrou estruturas de concreto estouradas e com rachaduras, vergalhões de aço abandonados e diversos trechos em que o concreto fica lado a lado com a terra seca do sertão nordestino.
(...)
Prometida para o final do governo Lula, a obra tem seu prazo de entrega sucessivamente adiado.
A obra está atualmente orçada em R$ 6,8 bilhões, 36% a mais do que a projeção inicial.
Abandono.
Durante três dias, a reportagem percorreu cerca de 100 quilômetros da extensão dos canais da obra.
O abandono foi a tônica da viagem, com canteiros completamente parados.
As únicas exceções foram as partes da transposição sob responsabilidade do Exército.
Em um dos trechos visitados, na divisa das cidades pernambucanas de Betânia e Custódia, cerca de 500 metros de concreto estão totalmente quebrados, com pedaços se soltando do solo.
Esse trecho terá de ser refeito para a água do São Francisco passar.
O padre Sebastião Gonçalves, da diocese de Floresta, foi quem encontrou o trecho destruído durante vistoria frequente que faz pelas obras.
“As empresas abandonaram as obras e já começou a se perder o trabalho feito.
É um desperdício inexplicável.”
A parte que aparece com as maiores avarias está no lote 10 da obra, que teve as obras iniciadas pelas construtoras Emsa e Mendes Júnior.
Segundo moradores da região, as máquinas começaram a ser retiradas desde o início do ano passado.
Há cerca de dois meses, os funcionários foram demitidos, deixando os alojamentos como aspecto de cidade fantasma, onde só restam vigias e alguns funcionários administrativos.
“É uma situação caótica, está tudo parado”, reclama Manoel Joaquim da Silva, coordenador do sindicato dos agricultores familiares de Floresta e companhia constante do padre Sebastião Gonçalves no acompanhamento das obras.
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