Por Mauro Pereira
Encerradas as comemorações de fim de ano, sobrou a sensação de que 2011, no coletivo, não deixará saudade: ficará marcado como um dos mais medíocres anos políticos, caracterizado por crises sucessivas envolvendo os três Poderes da República. Não sei qual deles mais assombra os meus medos, mas sei que todos eles exacerbam minha mais profunda desconfiança.
Como tem acontecido nos últimos anos, o governo federal manteve sua aposta no turbilhão publicitário para amenizar o desmoronamento moral que o acompanha desde 2003.
A propaganda oficial se destacou pelo conteúdo distorcido, mais preocupado em promover a logomarca do governo, e pelo indisfarçável viés eleitoreiro.
Exibindo uma desfaçatez muito bem articulada, Lula e Dilma foram os principais protagonistas dos comerciais que vendem a imagem falsificada do Brasil.
Ambos também tiveram desempenho notável na manifestação mais sórdida de desrespeito à inteligência dos brasileiros, concebida para fazer de conta que tanto o escândalo do mensalão quanto os quinze ministros exonerados por envolvimento em casos de corrupção, se existiram, não foram produzidos por suas administrações.
Tripudiaram sobre a parte da sociedade abandonada por uma oposição omissa, que se escondeu atrás de uma pretensa preservação da ordem institucional e, como tributo à covardia, se qualificou como a principal avalista do clima de desordem que hoje ameaça as instituições. Medrosa, traiu a confiança dos eleitores com as mesuras exageradas de seus governadores e contentou-se em ser espectadora privilegiada da farra bilionária proporcionada por ministros corruptos indicados por Lula e nomeados pela presidente Dilma Rousseff.
Ao entrarmos no décimo ano do governo petista, pouco há a ser comemorado.
Os telejornais se engalanaram para encenar mais um ato de bajulação explícita ao governo federal, festejando com estardalhaço o ingresso do Brasil no grupo das cinco maiores economias do planeta.
Pirotecnia demais e informação de menos, pois em momento algum registraram que o país figura entre as sete economias mais desenvolvidas desde o tempo da ditadura militar.
A manobra inescrupulosa minimiza a verdade crua: um enorme vazio separa dezenas de milhões de brasileiros desse suposto avanço.
É desumano o júbilo que reveste a 5ª riqueza mais pobre do mundo.
Não pode haver alegria quando os números do Brasil real apontam para um cenário desolador, que mostra mais de 19 milhões de filhos bastardos da opulência petista, que sobrevivem abaixo da linha da miséria.
É imoral justificar qualquer presunção de sucesso econômico quando mais da metade da população não tem acesso ao esgoto tratado e à água potável, enquanto outra parcela considerável desfila pela avenida da submissão o estandarte da pobreza remunerada.
Da mesma forma, é inadmissível vangloriar-se de uma fortuna que, se abarrota os cofres do governo, não chega até aos adolescentes que, desassistidos, perambulam entre os 40% de miseráveis e os 20% de analfabetos, realidade assustadora que coloca em xeque o futuro da nação e destrói no nascedouro o sentimento de nacionalidade.
Eleita com os votos da maioria esmagadora desses humilhados pelo esquecimento, a presidente Dilma Rousseff deixou escapar uma oportunidade única de reconciliar-se com o seu mandato ao esquivar-se da responsabilidade de comunicar à nação o sucesso da economia brasileira e, por conta disso, manifestar seu pesar pela incompetência na gestão dos recursos financeiros disponíveis ─ e, solidária aos miseráveis, expressar sua vergonha pelo acinte do trem-bala, pela ação criminosa de ONGs companheiras, pelo desvio de dinheiro público que passou de bilhão praticado por seis de seus ministros, pelo seu reveillon constrangedor que custou ao erário mais de meio milhão.
Para concluir o ritual de reconciliação, deveria pedir perdão por todas as promessas que ficaram perdidas em algum lugar da campanha.
Tal postura seria menos comprometedora do que isolar-se numa base militar e transferir ao pior ministro da Fazenda da história republicana a tarefa de explicar que se os mensaleiros forem condenados e presos, se os ministros deixarem de assaltar os cofres públicos e se não houver superfaturamento nas obras da Copa do Mundo, daqui a vinte anos o governo do PT estará preparado para resgatar esses cidadãos da condição de sub-brasileiros.
Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Guido Mantega são a confirmação inequívoca de que, em se tratando de desenvolvimento humano, a sexta economia mais poderosa do planeta ainda continua com um dos seus tentáculos firmemente atolado nas cercanias da idade da pedra.
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