Por Arthur Virgílio
Acho que Fernando Henrique deixou uma certa agenda em alguma gaveta do Palácio da Alvorada. Tudo indica que a Presidente Dilma Rousseff a encontrou e, timidamente, tenta pô-la em prática.
Ofereço dois exemplos: diferentemente de Lula que, em 2010, maquiou o superávit primário, em 2011 a meta estipulada (3,1% do PIB) foi cumprida, até com ligeira folga, com a ajuda de receitas extraordinárias. E as privatizações foram retomadas, inicialmente passando para a responsabilidade da iniciativa privada os três principais aeroportos do país.
Considero ambos os fatos positivos, com a ressalva de que foi o aumento da carga tributária – e não o corte de gastos expletivos – a tornar possível o atingimento da meta para o superávit.
E remarcando que o modelo adotado na privatização dos aeroportos peca por manter a Infraero como sócia do negócio, significando elo com o setor público e abrindo espaço para que continuem as negociatas e o aparelhamento político.
Se Dilma ler o restante da agenda com atenção, poderá melhorar em muito a performance do seu governo. Tomara que tenha encontrado por inteiro o mapa do bom senso e da perspectiva de futuro.
Vamos agora às contradições: O Boletim Focus mostra que a mediana das expectativas para o crescimento do PIB recuou de 2,85% para 2,84%, em 2011...
O Ministério da Fazenda de Guido Mantega, panglossiano como sempre, divulgou números bem diferentes: o PIB de 2011 teria caído de 3,80% para 3,20%, bem acima da mediana do mercado...
O Ministério da Fazenda tem errado feio. Falava em PIB de 4,50% para 2011 e os números reais são menores que 2,90%. O mercado, aliás, já projetava abaixo de 3,0% desde outubro último.
A equipe econômica deveria ser consciente de que seu papel não é vender falso otimismo. Agindo sem seriedade intelectual (ou seria incompetência?), perde credibilidade.
Se acrescentarmos ao quadro o episódio obscuro da demissão e da nomeação do Presidente negocista da Casa da Moeda, que coloca o próprio Mantega em cheque, perceberemos sinais preocupantes para a economia.
Na inflação, enquanto o mercado projeta IPCA de 5,29% em 2012 e 5,0% em 2013 (índices sempre acima do já elevado centro - 4,5% - da meta), a Fazenda estipula 4,70% para este ano. A inflação, na verdade, continua sendo o maior desafio do atual governo.
(...)
A valorização do real diante do dólar tem impedido a explosão da inflação; por outro lado, vem prejudicando a indústria nacional e a balança comercial. Além disso, o país vem ficando mais e mais dependente da China e do aumento dos preços das suas commodities no mercado internacional. Até o México já conta com indústria mais pujante que a nossa, inclusive ameaçando o parque automotivo instalado no centro-sul.
E os principais vetores que conduzem ao desenvolvimento verdadeiro permanecem em situação crítica: educação, ciência e tecnologia, saúde, infraestrutura e segurança. É o futuro sendo hipotecado por um presente de despreparo e ligeirezas.
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