quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Cacoete ideológico em Cuba

O Globo (Editorial)

Na primeira visita a Cuba, a presidente Dilma Rousseff foi traída pelo passado. Não se esperava que abordasse o tema dos direitos humanos em público. Mas decidiu fazê-lo, numa cerimônia no Memorial José Martí, e cometeu o grave erro de tentar relativizar os fartos e conhecidos crimes cubanos nesta área, incluindo numa infeliz pensata os delitos cometidos pelos americanos na base de Guantánamo, na ilha, uma nódoa, de fato, na História dos Estados Unidos.

Mas misturou coisas diferentes, na visível tentativa de, como é praxe em parte da esquerda brasileira, passar a mão na cabeça dos irmãos Castro. Dilma pontificou que não se deve usar direitos humanos como arma política.

De fato, mas, dito isto, incorreu neste mesmo erro.

Ali, logo no início da viagem oficial, transformou-se em decepção a esperança que dissidentes tinham de que Dilma não repetiria a desastrada passagem de Lula pela ilha, no mesmo dia da morte de Orlando Zapata, um dos presos políticos de Fidel e Raúl em greve de fome.

De volta ao Brasil, comparou-os a prisioneiros comuns.
(...)

— Ela agiu como Lula e não se interessou pelo povo cubano — desabafou Berta Soler, porta-voz das Damas de Branco, grupo formado por mulheres e familiares em geral de presos políticos.

Foi mais forte, infelizmente, o cacoete ideológico da extrema esquerda brasileira do final da década de 60 e início dos anos 70. Há neste grupo, marcado pela luta armada apoiada por Cuba, uma paixão cega e juvenil pelo castrismo. Não importa para eles que a ilha seja, ao lado da Coreia do Norte, o último bolsão de stalinismo medieval, quase um pleonasmo.
(...)
É risível tentar colocar no mesmo verbete os EUA e uma ditadura de mais de meio século, com inúmeros crimes cometidos contra os direitos humanos — fuzilamentos, greves de fome e mortes, perseguições, etc. — no currículo.
(...)

Mas de nada adianta fingir que Cuba não continua a ser uma ditadura violenta. A relativização na leitura da História é sempre perigosa. Por meio dela termina-se até “entendendo” por que Hitler fez o que fez com judeus, ciganos, homossexuais e artistas.

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