Ruy Fabiano -
Há substanciais diferenças entre o cerco parlamentar imposto a Dilma Roussef e o que enfrentou Fernando Collor, quando na presidência da República. Collor não tinha base social e dispunha de um partido fictício, o PRN, criado para registrar sua candidatura.
(...)
O que os governos Collor e Dilma têm em comum, isto sim, é um vasto prontuário de escândalos – e aí, reconheça-se, Collor foi bem mais modesto.
As façanhas de PC Farias parecem estrepolias de escoteiro diante do mensalão, com seu cortejo de dossiês e aloprados, que marcaram o governo anterior.
O governo Dilma herdou esse passivo, expresso nas alianças parlamentares e nas nomeações ministeriais que fez.
A vantagem de Dilma em relação a Collor é que não há um PT na oposição.
E isso confirma o que já se sabia: Collor não caiu pela corrupção, que serviu apenas de pretexto para derrubá-lo e, por isso mesmo, lhe sobreviveria até chegar ao paroxismo dos dias atuais. Caiu por falta de interlocução político-partidária, falta de base social.
A maioria elege, mas não fornece governabilidade. Esta depende de articulação política, que, no presidencialismo de coalizão, traduz-se por loteamento de cargos.
Foi com base nele que Lula governou e elegeu Dilma, desconhecida da maioria da população até às vésperas da campanha. O paradoxo que Dilma construiu – e que terá de superar - é o de tentar se livrar de quem a levou ao poder.
Até aqui, ao expor esses aliados à execração pública, apenas dificulta o caminho de volta, para o qual não tem alternativa: nem a oposição aderirá a seu governo, nem os aliados hão de se regenerar, nem é possível manter o ambiente de impasse presente. É recuar ou recuar.
As pesquisas mostram que a presidente ganhou popularidade com o enfrentamento, mas isso não lhe dá governabilidade.
O público percebe a crise como ato de coragem, quando é apenas de destempero, inaptidão para a ação política.
Não conecta as pontas do processo, não vê que os atuais adversários da presidente são os que a levaram aonde está e que lhe garantiram que chegasse até aqui.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário