Mary Zaidan
Em junho de 2003, o Senado rejeitou a indicação de Luiz Alfredo Salomão para a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Na época, o PMDB aproveitou-se do ódio de José Sarney por Salomão, que, uma década antes, tentara quebrar o sigilo de Roseana Sarney na CPI do Orçamento, para expor suas insatisfações com o presidente Lula.
Nove anos depois, a base aliada repetiu a dose ao rejeitar Bernardo Figueiredo para a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Desta vez, um tanto pior, já que, em tese, Dilma Rousseff teria maioria de nada menos do que 54 dos 81 senadores, nessa que é aclamada como a maior de todas as coalizões de governo de que se tem notícia no país, quiçá no mundo.
A tática é quase infalível, e, desde os tempos de Lula, sempre com dirigentes de agências reguladoras. O PMDB fez igualzinho em 2005 ao rejeitar José Fantini para a ANP na Comissão de Infraestrutura. O alvo era a ministra de Energia Dilma Rousseff, madrinha do indicado.
Não é por puro acaso que a preferência por dar o tombo no governo recai sobre dirigentes das agências.
Organismos de caráter estritamente técnico, criados para regulamentar e fiscalizar serviços públicos prestados por empresas privadas, nos governos petistas elas foram tomadas de assalto pelo loteamento político. Portanto, são alvos de cobiça desvairada da base.
Pesquisa da consultoria Macropolitica, publicada no jornal Valor Econômico, revela que os cargos de direção das agências estão partilhados entre PT, PMDB e PCdoB. E deixam eriçados o PTB e o PR. A politização escancarada é uma das explicações para o aumento de quase 100% nos gastos das agências: R$ 733 milhões em 2004 para R$ 1,4 bilhão em 2010.
Sem autonomia, as agências viraram apêndices do governo. Funcionam com obediência cega, deixando no escuro o cidadão que ela deveria proteger. Os apagões de energia e aéreos que o digam.
Mas nada disso parece apoquentar o governo. Para aplacar a fúria da base, Dilma trama novas nomeações e fala em liberar emendas parlamentares.
Faz tudo no varejo. Distribui migalhas para acalmar famintos. Mas nem de longe acena com maturidade política. E, sem partilhar poder, aperta a corda em seu pescoço.
“Este é um momento tenso”, diz o ministro Gilberto Carvalho, perto da humildade, nesta altura pouco crível por quem se sente usado e abusado. Com apenas 14 meses de mandato, Dilma sofre as conseqüências da arrogância com que ela e o seu governo tratam tudo e todos.
Os avisos, ela tem recebido aos punhados. Resta saber se além de apelos dramáticos e lágrimas em prol da coalizão saberá o que fazer com eles.
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