domingo, 4 de março de 2012

Chapéu' de Kassab arranha imagem de Lula dentro do PT

Fracasso das negociações com o PSD do prefeito transforma ex-presidente em alvo de críticas dentro da legenda

Ricardo Galhardo e Clarissa Oliveira, iG São Paulo


A fracassada tentativa de aliança com o PSD para a disputa da Prefeitura de São Paulo arranhou a imagem de "semi-divindade" do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no PT. Alguns petistas ainda custam a acreditar que Lula não tenha previsto a possibilidade de o ex-governador José Serra ser candidato, levando Kassab consigo e deixando o PT a ver navios, mas a percepção geral é que o ex-presidente foi enganado.

Segundo petistas, as negociações com o PSD deixaram o PT em um estado de paralisia, geraram fortes reações contrárias na base do partido, neutralizaram o discurso de oposição de Fernando Haddad e jogaram por terra seis meses de trabalho duro da direção municipal para emplacar o ex-ministro sem abalar a unidade partidária.

Lula e alguns petistas com interesse direto na aliança acreditaram piamente no prefeito e passaram a forçar a aliança. Para isso, atropelaram a direção municipal e lideranças históricas, como a senadora Marta Suplicy, ignoraram a base petista e o próprio Haddad, que nunca escondeu o incômodo.

Kassab aproveitou a porta escancarada e ficou à vontade. Começou a falar diretamente com Lula, ganhar afagos públicos da presidenta Dilma Rousseff, negociar alianças em várias cidades importantes e posar de aliado do governo.

O ápice foi o aniversário de 32 anos do PT. A direção nacional do PT tem o hábito protocolar de convidar para a festa todos os presidentes de partidos, inclusive de oposição. Kassab, para surpresa geral, aceitou o convite. Até o último momento a direção petista acreditava em uma participação discreta. Até que um assessor de Kassab perguntou se o prefeito seria um dos oradores.

Kassab ainda perguntou quando poderia sair, pois seria paraninfo em uma formatura na FAAP, em São Paulo. Ficou combinado que o prefeito ficaria até o hino nacional. Foi tempo suficiente para o técnico que operava o sistema de vídeo colocar a imagem do prefeito em tamanho gigante no telão, levando a cúpula petista ao desespero, e o mestre de cerimônias o anunciasse como “companheiro” Kassab, provocando uma enorme vaia. “Só faltou o Kassab cortar o bolo”, resumiu um dirigente.

A manobra fracassada de Lula deixou cicatrizes. Dirigentes que se empenharam para emplacar Haddad a pedido do ex-presidente sentiram-se desrespeitados e excluídos. Alguns viram traços de arrogância no comportamento dos prepostos de Lula.

Além disso o PT, que conseguiu a façanha de definir o candidato em novembro, perdeu terreno na disputa por alianças e a aproximação com o PSD gerou um debate interno que ainda está longe de ser debelado.

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