O Supremo tem de exigir do retardatário a entrega da encomenda pronta na cabeça
Augusto Nunes
Nem faz tanto tempo assim que os brasileiros achavam impossível saber o que há dentro de barriga de grávida, urna eleitoral e cabeça de juiz. Os dois primeiros enigmas caducaram com os avanços ocorridos na medicina e na estatística: há muitos anos ninguém precisa aguardar o parto para descobrir se é menino ou menino, e os resultados da eleição são antecipados por pesquisas de boca-de-urna.
O terceiro mistério durou um pouco mais.
Vai sendo aposentado pela revogação do princípio segundo o qual juízes só falam nos autos.
A remoção desses limites tem ocorrido em todas as instâncias, mas os campeões da loquacidade jogam na seleção da toga. Os ministros do Supremo Tribunal Federal falam fora dos autos, cada vez mais, em entrevistas à imprensa e nas sessões transmitidas pela TV Justiça. Basta ouvir ou ler o que dizem, frequentemente aos berros, para descobrir o que há dentro de cada cabeça ─ e enxergar não só a decisão já tomada como os motivos que condicionaram sua gestação.
Até os cabides das togas sabem, por exemplo, que o ministro Ricardo Lewandowski já decidiu o que fará no julgamento do mensalão.
No papel de revisor do processo, vai absolver ─ “por falta de provas” ─ as estrelas do elenco formado por 38 envolvidos no maior escândalo federal registrado desde o Descobrimento. E aplicará penas brandas aos figurantes se as circunstâncias lhe soprarem que é arriscado inocentar a turma inteira. Pescar alevinos é uma boa maneira de livrar do anzol peixes graúdos.
Se depender de Lewandowski, portanto, será preservado o direito de ir e vir de gente como José Dirceu, acusado de chefiar a quadrilha formada por figurões do governo e empresários amigos.
Ou José Genoíno, que presidia o PT quando o partido virou quadrilha e hoje ajuda Celso Amorim a comandar o Ministério da Defesa.
Ou mesmo Delúbio Soares, reabilitado pela companheirada e condecorado por Lula com a medalha de Vítima da Grande Conspiração da Elite Golpista.
Se já decidiu como votar, perguntarão os brasileiros de boa fé, o que espera o doutor para concluir o palavrório que teve de começar a redigir há três meses?
A resposta está no comentário de 1 minuto para o site de VEJA:
Lewandowski não desistiu de empurrar o caso até 2013, sonho revelado em dezembro numa entrevista a Fernando Rodrigues, da Folha. Tal adiamento permitiria que, antes do julgamento dos mensaleiros, viesse a aposentadoria compulsória de dois ministros que parecem muito menos compassivos com pecadores sem remédio.
(continua)
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