domingo, 11 de março de 2012

PESCANDO EVANGÉLICOS

Ruy Fabiano

Ano passado, após a demissão de seis ministros por denúncias de corrupção (o sétimo sairia em 2011), assessores palacianos passaram a difundir a tese de que a presidente Dilma preparava uma reforma ministerial e administrativa.
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Eis que com a nomeação do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) para o Ministério da Pesca, esse critério da excelência técnica foi magistralmente confirmado.

O novo ministro, que é engenheiro, fez sua primeira declaração pública: “Eu não ponho uma minhoca no anzol”. Na solenidade de posse, Dilma e o próprio nomeado tentaram atenuar o impacto da declaração, explorando, em seus respectivos discursos, a desastrada frase como figura de linguagem.

O ministro sapecou: “Colocar minhoca no anzol a gente aprende rápido; pensar nos outros é que é difícil”. E a presidente, por sua vez, acrescentou: “Ele é um bom engenheiro, ele é um bom gestor. Tenho certeza que o Crivella vai acrescentar muito às nossas minhocas colocadas no anzol”.
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Crivella foi nomeado para tentar atenuar o mal-estar causado junto às igrejas evangélicas por recente (e igualmente desastrosa) declaração do secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho.

Ele declarou, no Fórum Social Mundial, que era inevitável um confronto entre os petistas e os evangélicos – e que era preciso um trabalho junto à classe C, para afastá-la deles.

A reação foi imediata e Carvalho recorreu ao único argumento que encontrou: disse que não disse o que disse e acusou a imprensa de distorcer suas palavras. Não foi original. Mais: foi à Câmara dos Deputados pedir desculpas pelo mal-estar causado. Ora, se ele não disse o que disse, não havia por que pedir desculpas.

O senador Magno Malta, que, entre outros adjetivos do mesmo quilate, o havia chamado, num discurso, de “canalha”, aproveitou a oportunidade para oferecer-lhe um DVD contendo sua fala no Fórum Mundial.

“Quem sabe ele assiste em casa e se lembra”, ironizou.

As declarações de Gilberto Carvalho no Fórum são verdadeiras. Os evangélicos, que têm sido parceiros do governo, não absorvem a agenda comportamental do PT, que, entre outras coisas, defende a liberação do aborto e o casamento gay.

Já na campanha de 2010, houve atritos. Foi preciso que Dilma, ignorando os vídeos que circulavam na internet, jurasse que era contra o aborto e que jamais o defendera. Os vídeos estavam enganados.

Tal reviravolta teve um bom motivo. Os evangélicos, segundo o IBGE, são o segmento religioso que, desde os anos 70, mais cresce no país, em taxas superiores ao crescimento demográfico.
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Embora numericamente inferiores aos católicos – calcula-se que sejam hoje 57 milhões, contra 100 milhões de católicos -, exibem uma tendência de crescimento bem superior, com um adendo: são praticantes, sentem-se integrados a um rebanho e costumam levar em conta a palavra dos pastores.

Tal não ocorre na Igreja Católica, em que grande parte dos que dizem professá-la não a praticam, nem se sentem submetidos à palavra de sua hierarquia.

Mais que isso, essa alta hierarquia, no Brasil, se manifesta pela CNBB (que não fala pela hierarquia romana, mas pouca gente sabe disso), que tem sido submissa (quando não entusiasta) da agenda do PT, mesmo quando esta afronta os mais elementares princípios de sua doutrina.

É o caso do aborto e do casamento gay, em relação ao qual a CNBB tem sido praticamente omissa.

Carvalho, pois, tem razão quando enxerga nos evangélicos um adversário potencial do projeto de engenharia social do PT. Mas precipitou-se ao mencioná-lo.

A nomeação de Crivella, mesmo não sabendo colocar “uma minhoca no anzol”, é uma tentativa de impedir o rompimento, que teria desastrosa repercussão eleitoral.

Não se sabe se será eficaz. Crivella, que, como bispo, teria a missão de pescar almas, está agora incumbido de pescar votos. Esse talvez seu único vínculo com a pasta que passa a comandar.

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