quarta-feira, 14 de março de 2012
QUE FALTA DE HABILIDADE!
Uma sopa fria e sem gosto era servida anteontem a um seleto grupo peemedebista num jantar no Palácio do Jaburu, a casa do vice-presidente da República. No menu, o fim da dinastia Romero Jucá (PMDB-RR) na liderança do governo no Senado. Silencioso e com pouco apetite, o senador encerrava, ali, seus 13 anos à frente do cargo. Comandou a base aliada no governo Fernando Henrique Cardoso; retomou o posto com Lula, mas não sobreviveu a Dilma Rousseff. Sua destituição fora encomendada na última sexta-feira, e seu sucessor, Eduardo Braga (PMDB-AM), convidado pela presidente da República na mesma data.
A intenção do Planalto de mudar seus dois líderes do Congresso só foi conhecida três dias depois.
Jucá e seu homólogo da Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), souberam apenas na segunda-feira, e pela imprensa, o que estava decidido desde a semana anterior.
A insatisfação com a dupla vinha desde dezembro. Anteontem, depois de Dilma conversar com Braga e os senadores José Sarney (PMDB-AP) e Renan Calheiros (PMDB-AL), ainda faltava chamar seu líder demissionário. Um problema bilateral com o México atrasou a convocação. A informação acabou correndo a Esplanada.
Alertada do rumor, ela lamentou: "E eu ainda não falei com o Jucá...". Mas já era tarde. Seu ex-braço-direito no Senado já sabia do desfecho. Por acidente, encontrou seu sucessor nos corredores do Congresso. Braga, desavisado, presumiu que o colega voltava, naquele momento, do encontro definitivo com a presidente. No Planalto, a gafe foi do líder do PMDB.
"As redes sociais estão te demitindo", brincou Henrique Eduardo Alves (RN).
Minutos depois, o petista era visto ao telefone na antessala da ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais):
"Mas ninguém me falou nada!".
Em meio às especulações, Dilma, porém, deu ordens para que nenhum assessor confirmasse a mudança. Ela pretendia anunciá-la ontem, até encontrar um nome para a Câmara. Jucá, então, apelou: "Presidenta, eu peço que a senhora confirme hoje", disse, sem querer prolongar a condição de futuro-ex-líder do governo.
A presidente cumpriu o combinado. Horas depois, anunciava Braga e o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) como os novos líderes da base aliada no Congresso.
A assessores Romero Jucá chegou a fazer um gesto simbólico, indicando sua disposição daqui para frente: cruzou os braços.
A sopa servida no Palácio do Jaburu foi mais fria para Jucá do que para os demais convidados, dentre eles seu sucessor, Eduardo Braga. Tradicionalmente desunidos, os peemedebistas presentes concordaram em um ponto: além do clima político, o jantar estava intragável.
(Folha de São Paulo)
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