48 anos depois, há gente querendo cassar de novo os direitos políticos de Serra
Reinaldo Azevedo
O principal adversário do tucano José Serra na eleição para a Prefeitura de São Paulo não é o candidato do PT, do PMDB ou de outro partido qualquer.
Seu principal oponente é a cobertura política de boa parte da imprensa paulistana.
O viés de certo jornalismo que se quer isento já ultrapassa a fronteira do ridículo.
Nas prévias realizadas ontem, Serra obteve 52,1% dos votos — José Aníbal ficou com 31,2%, e Ricardo Trípoli, com 16,7%. Bastaria 33% mais um, certo? Ele superou, no entanto, a soma dos outros dois.
Leiam jornais de São Paulo, e vocês ficarão com a impressão de que Serra foi derrotado. E tal perspectiva, claro!, é atribuída a seus próprios “assessores”, que estariam esperando mais… A sorte de Serra é que existem os eleitores!
Ora, se a perspectiva fosse uma vitória com, sei lá, 70% ou 80% dos votos, então prévias para quê?
José Aníbal e Ricardo Trípoli só mantiveram suas respectivas postulações — Andrea Matarazzo e Bruno Covas desistiram como parte do entendimento político que juntou parcela do PSDB — porque, afinal, as prévias se mostraram um processo efetivo, que, de fato, mobilizou o partido.
O evento deveria, em si, independentemente de méritos e deméritos dos postulantes, estar sendo aplaudido.
Um observador que ignorasse como se andam a fazer salsichas no Brasil ficaria estupefato: “Esperem aí: esse cara obteve 52,1% dos votos, e estão dizendo que o resultado é ruim?” A sorte de Serra é que existem os eleitores.
Quanto tempo vai demorar para que alguém lance suspeitas sobre a legitimidade de Dilma Rousseff?
Afinal, havia 124 milhões de eleitores no Brasil em 2010, e ela obteve “apenas” 55.752.529 — 44,9% dos votos. Entenderam?
Nada menos de 55,1% dos brasileiros habilitados a votar NÃO VOTARAM NELA.
Mas esse é o tipo de conta que não se faz com petista porque logo se lança a suspeita de que o analista é um golpista. Com um tucano, tudo bem! A sorte de Serra é que existem os eleitores.
Talvez seja chegada a hora de os senhores editores e diretores de redação refletirem um tantinho se não estão passando da conta. Até quando a candidatura de Serra ficará refém do samba de uma nota só da renúncia à Prefeitura em 2006 — como se os próprios eleitores não tivessem se posicionado a respeito, inclusive os da cidade de São Paulo, ao elegê-lo governador?
Elegeram-no porque reprovaram a sua gestão?
Dos outros pré-candidatos não se cobram propostas, descumprimentos de promessas, passado, nada… Toda a severidade do chamado “jornalismo crítico” está reservada ao tucano. A sorte de Serra é que existem os eleitores.
O que mais esperam que diga? Por qual nova explicação anseiam? Em 2006, aconteceria uma de duas coisas: ou o PSDB lançava Serra candidato ao governo de São Paulo, ou Aloizio Mercadante, do PT, seria eleito.
O que, afinal de contas, esses setores do jornalismo censuram nos tucanos?
A “traição” de terem impedido a vitória de Mercadante?
Teria sido legítima se tivesse acontecido — apesar do dossiê dos aloprados… —, mas não aconteceu.
Qual foi o pecado do PSDB? Não ter escolhido a derrota?
A sorte de Serra é que existem os eleitores.
Caso vença a eleição, não há no horizonte circunstância que force Serra a disputar um outro cargo em 2014. Esse jogo está jogado.
A insistência no tema, é indisfarçável, integra um trabalho que já não tem mais nada a ver com jornalismo: é militância política.
Não por acaso, a questão é hoje o único tema de que se ocupam o petista Fernando Haddad e o neopeemedebista Gabriel Chalita.
Ambos, aliás, podem fazer propostas escancaradamente anti-sociais — a exemplo do que disseram sobre a inspeção veicular —, e não se lê uma só linha de crítica, nada!
É que é preciso voltar a 2006, ao papel, ao esforço de criminalizar politicamente o que crime não é; à tentativa de condenar Serra por algo que a população aceitou.
A sorte de Serra é que existem os eleitores.
E é justamente porque os eleitores existem que se faz esse trabalho incansável: quem sabe eles mudem de ideia, não é?
Analistas ditos “isentos”, que fingem estar preocupados apenas com a “ciência política”, são ouvidos para falar sobre a política e pregam — sem citar nomes, claro! — o que chamam “renovação”.
Os renovadores, então, seriam Gabriel Chalita e Fernando Haddad.
Como ninguém aposta no taco do primeiro, trata-se de campanha eleitoral para o segundo — conta-se com o outro apenas como esbirro do projeto.
O homem da renovação é aquele que foi feito candidato porque o coronel Lula mandou.
Cada um escreva o que bem entender. Faço o mesmo.
Eu estou aqui apontando a existência de uma pauta direcionada, fanaticamente anti-Serra, que preserva os demais candidatos de qualquer abordagem crítica, que consegue transformar a vitória nas prévias eleitorais numa espécie de derrota.
Afinal, disputando com dois outros, ele obteve “apenas” 52,1% dos votos. Sabem como é… 47,9% não votaram nele, assim como 55,1% dos brasileiros NÃO VOTARAM EM DILMA!
Gilberto Dimenstein tinha todo o direito de tentar eleger Aloizio Mercadante, seu ex-cunhado, tio de seus filhos, em 2006. Aquela pequena ceninha que ele armou não precisava, no entanto, ter virado categoria de pensamento. Chegou a hora de a imprensa paulistana se ocupar dos problemas da cidade.
Serra já teve os direitos políticos cassados em 1964.
Nao será a democracia a cassá-los de novo!
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