Mary Zaidan
Em abril de 2011, o diretório nacional do PT aprovou, por 60 votos a 15, a refiliação de Delúbio Soares, ex-tesoureiro do partido, acusado de ser um dos principais articuladores do mensalão. Com o aval determinante do ex-presidente Lula, a volta de Delúbio só não virou festa de arromba em Goiás, seu estado natal, por alerta de seus advogados.
Autor da máxima “transparência assim já é burrice”, que acabaria por nortear boa parte do PT e do governo lula-dilma, Delúbio já se preparava para o indulto total: na Justiça, e, quem sabe, no voto popular.
O jato congelador veio na quinta-feira. O STJ rejeitou o recurso do ex-tesoureiro, condenado pelo Tribunal de Justiça de Goiás por improbidade administrativa por ter recebido salários ilegais de 1994 a 1998 e de 2001 a 2005, sem trabalhar, amparado por licenças também ilegais.
A multa de R$ 164,5 mil e a inelegibilidade por oito anos pouca importância têm perto do que a condenação significa.
Delúbio foi reembarcado na nau petista quando Lula e a cúpula do partido apostavam na credulidade total do povo-súdito. Convenceriam a todos de que o mensalão não havia passado de uma gigantesca armação para desapear Lula do poder.
Sem constrangimento algum, foram adaptando versões, reescrevendo a História nos capítulos da conveniência.
Ainda em 2005, logo que a compra de votos de deputados veio à tona, Lula se disse traído pelos seus. Mais tarde, em uma entrevista surreal em jardins parisienses, negou o mensalão, substituindo-o por caixa 2, prática usual de todos os partidos. Portanto, pecadinho menor. No final do segundo mandato, passou a jurar que tudo era mentira. E que, fora do Planalto, se dedicaria a desmascarar a grande armação contra ele e o PT.
A purificação de Delúbio fazia parte desse contexto. Sua refiliação serviria para confirmar a tese de que o mensalão era invenção da direita, que nunca existira; que Delúbio, o fiel, pagara um preço muito alto.
O calendário parecia perfeito, não fosse a desconfiança das pedras, que insistem em brotar pelo caminho.
Primeiro, a Ficha Limpa, que, por pressão popular, ressuscitou valores adormecidos. Depois, as quedas sucessivas de ministros por suspeita de corrupção e a possibilidade cada vez mais concreta de o STF julgar os 36 mensaleiros ainda neste ano. Tudo isso, agonizado pelo afastamento compulsório de Lula.
A condenação de Delúbio, mesmo que por outro crime, joga uma pá de cal naqueles que o defenderam – de Lula a José Dirceu, o chefe da quadrilha segundo o procurador-geral da República - e exemplifica para o grande júri a conduta nada exemplar da turma.
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