Marta Suplicy relutou em entrar na pré-campanha do seu ex-auxiliar
financeiro, mas continua desabrida na contundência do ataque que faz a
mim, à minha administração e à cidade. Exemplo disso está na sua coluna do dia 7, neste jornal. A começar pelo
título ("Mediocridade agora tem"). É, digamos, deselegante, mas no
estilo Marta. É também democrático, reconheço. Ela escreve o que quer,
claro, embora o pré-candidato José Serra, em coluna em outro jornal,
abstenha-se, por iniciativa própria, de abordar nesse tom assuntos
municipais, com autoelogios ou ataques fora do lugar. Aqui, coloco hoje, com objetividade, os meus argumentos.
Marta Suplicy diz, em linhas gerais, que fez um ótimo governo. Os
paulistanos acham o contrário. Em 2004, deram a vitória ao Serra. E, em
2008, foi derrotada por mim. Duas vezes os eleitores disseram que não
queriam Marta de volta à prefeitura. E, agora, quem disse a mesma coisa
foi seu partido, o PT, que preferiu outro pré-candidato.
Marta alega que naufragou porque não tinha recursos. Isso é no mínimo
discutível, pois ela enterrou mais de R$ 700 milhões no projeto
Fura-Fila, muito mal gerido. Fizemos andar. Recursos públicos, quando bem geridos, possibilitam projetos inovadores,
como o Cidade Limpa, as Amas (hoje são quase 120), o Mãe Paulistana
(quase 700 mil partos, com a atenção que as mães não tinham e agora têm)
e o remédio em casa, pelo correio, para milhares de pessoas vítimas de
doenças crônicas e outros. Recursos públicos, geridos com austeridade e competência, permitem, por
exemplo, trocar escolas e salas de lata por instalações dignas.
O que também fizemos, aliás, com os CEUs, que tinham falhas de
planejamento, funcionários sem pagamento, piscinas sem cloro e obras
abandonadas. Serra manteve o nome, melhorou e ampliou o projeto, que
hoje é outro. Continuamos, aperfeiçoamos, mais que duplicamos. Isso é
respeitar o dinheiro público investido. Marta -que não justifica suas ausências e seu alheamento aos interesses
de São Paulo (cidade e Estado) no Senado- não explica por que esbanjou
dinheiro público em coqueiros inadequados, túnel com semáforos e
inundação, corredores de ônibus feitos com pintura de faixas no chão que
fomos obrigados a refazer.
Não estamos aqui pedindo para a ex-prefeita explicar os cofres públicos
vazios, os hospitais não construídos, a saúde destroçada, a falta de
remédio nos postos e a fila de credores na porta da prefeitura.
Seria
tedioso, enfim, enumerar todos os equívocos da administração do
PT.
Os paulistanos, vítimas dele, já mostraram duas vezes que têm boa
memória.
Não é denegrindo a cidade, minimizando conquistas e avanços, omitindo a
valiosa contribuição dos paulistas ao Brasil e tentando rebaixar o
trabalho, as qualidades e virtudes de São Paulo e dos paulistanos que
Marta Suplicy contribuirá para a discussão dos problemas gigantescos
que, como administradores e cidadãos, temos de enfrentar.
O diálogo exige equilíbrio e seriedade. Esta nossa metrópole de 11
milhões de pessoas espera, no mínimo, um debate acima das mágoas e das
grosserias eleitoreiras.
Gilberto Kassab,em coluna de hoje na Folha de São Paulo