Coluna Carlos Brickmann
Lembre aquela brincadeira antiga, em que a sombra dos dedos parece ser um cachorro, ou uma casa, ou uma ave. O poder é assim: as coisas não são o que parecem (e, quando são, como ninguém acredita que sejam, é como se não fossem). Collor batia em Sarney, mas era xingação de campanha - tanto que hoje são colegas de base aliada. Lula chamava Sarney de ladrão, dizia que Maluf tinha de ir para a cadeia, mas eram, disse, bravatas: hoje estão todos juntos.
Não pense que alguém queira prender o senador Demóstenes Torres ou desmontar o império de Carlinhos Cachoeira.
O jornalista Fernando Gabeira sintetizou o caso com sua habitual precisão:
"Está ficando claro para todos que o PT pretende usar o escândalo Cachoeira para demonstrar que o mensalão foi apenas uma cascata. As denúncias coincidem com o ano eleitoral. É inevitável que cada força política utilize o tema da maneira que lhe parece mais vantajosa".
No caso, tentar reduzir a importância do Mensalão, que está para ser julgado no Supremo.
Um indício? Há alguns anos a investigação vem correndo, mas só agora as conversas telefônicas foram vazadas para a imprensa. Por que exatamente nas proximidades do julgamento do Mensalão? E justo Demóstenes?
Demóstenes, mesmo que consiga se livrar de problemas judiciais, é um achado: o mais agressivo denunciante fazia o que acusava os adversários de fazer. Contribui para a ideia geral de que política é isso mesmo e que os mensaleiros são iguais a todos os outros. Não são.
Mas há muitos iguais a eles.
Fumaça nos olhos
Para ter certeza de que o objetivo das denúncias é sempre político-partidário, lembremos que vários ministros caíram, um deles até por gastar dinheiro público numa festa em motel. Derrubados, as acusações cessaram, vão todos bem, obrigado, e alguns reclamam que não foram ouvidos na nomeação dos sucessores.
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