Dora Kramer
No oficial, o governo nega intenção de interferir na
CPI. Longe no Palácio do Planalto qualquer ideia longínqua que seja de
influir em atividade exclusiva do Legislativo, dizem e continuarão a
dizer ministros e auxiliares da presidente Dilma Rousseff que, se
possível, gostaria de não dar uma palavra em público sobre o assunto.
No paralelo, o governo já tem definida a linha de atuação para tentar
manter sob estreita vigilância os trabalhos da comissão mista de
inquérito: restringir o objeto das investigações ao universo da Operação
Monte Carlo e usar a maioria parlamentar para controlar requerimentos,
depoimentos, quebras de sigilo, cruzamentos de dados, vazamento de
informações e demais variantes desse tipo de evento.
(...)
O plano é dar as diretrizes por controle remoto, mantendo uma
distância regulamentar da fogueira em que pode, ou não, se transformar a
CPI. Para isso, serão usados os líderes partidários que para todos os
efeitos tomarão as decisões de maneira independente.
(...)
Considerando que em períodos de CPI de potencial explosivo não há
outra pauta possível no Parlamento, a normalidade daqui em diante será
tratar do assunto nas reuniões ditas institucionais.
A dificuldade será fazer isso em segredo.
Há dois obstáculos
concretos ao êxito do estratagema. Um, o traçado de digitais que por si
se dão a conhecer e deixarão patente a interferência do Executivo no
Legislativo. O outro, parafraseando Nelson Rodrigues, o "Imponderável de
Almeida".
No caso representado pelo grau de tolerância da sociedade para com faxinas de fachada.
Aos fatos. Autor da denúncia do mensalão, o ex-procurador-geral da
República Antonio Fernando de Souza envia mensagem acerca do artigo
Denúncia revisitada e aproveita para comentar a tentativa de se
qualificar a peça apresentada em 2006 como produto de uma fantasia
conspiratória.
"Confesso meu desconforto quando leio que algumas pessoas querem que a
sociedade considere como 'farsa' os fatos denominados pela imprensa
como 'mensalão' e que foram objeto de denúncia já recebida pelo Supremo
Tribunal Federal.
"A coluna de modo direto recomenda àqueles que manifestam tal
propósito que façam a leitura da denúncia então oferecida. Eu
acrescentaria que também apreciem as provas em que se apoia cada uma das
imputações.
"O texto, além de conter a referida recomendação, tem o condão de
revelar que a suposta 'farsa' é na verdade um acontecimento real, cuja
existência histórica não pode ser apagada, de modo que não se trata de
uma criação da imprensa ou do Ministério Público.
"Lembro que a denúncia foi apresentada antes da aprovação do
relatório final da CPMI dos Correios, circunstância que a torna despida
de qualquer influência de considerações ditadas por interesses
político-partidários que, além de atingir pessoas de outro espectro
partidário, jamais pautaram minha atuação profissional."
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário