segunda-feira, 9 de abril de 2012

Elio Gaspari decidiu escrever sobre uma fantasia. Pois eu lhe ofereço a realidade.

Agressivo é tentar calar a voz da divergência. Aqui não vai!
Reinaldo Azevedo

Escrevi ontem um post sobre um texto de Elio Gaspari, publicado na Folha e no Globo, em que, recorrendo à ironia, o autor imagina um Brasil de 2015 governado pelo senador Demóstenes Torres.

Gaspari faz, então, uma caricatura de algumas críticas fundamentadas, sim, que poderiam e podem ser feitas aos governos petistas.
(...)

Eis os amantes da democracia que estão se criando no Brasil: aceita-se, sim, a divergência como apanágio do regime democrático, desde, é claro!, que sejam divergências de um lado só. Apenas os ditos “progressistas” teriam legitimidade para contestar… “progressistas”.

Aí está a essência do pensamento totalitário — de qualquer totalitarismo, seja de esquerda, seja de direita.
(...)

Acuse o adversário de agressivo e não debata
Sim, contestei o texto de Gaspari ponto por ponto.
(...) No caso em questão, o seu texto nada mais faz do que estimular, incitando mesmo, a intolerância. Reclamam ainda que lembrei a sua antiga simpatia pelo regime militar. Fazer o quê? É verdade! Apenas isso.

Retomando o caso Gaspari
O colunista da Folha e do Globo resolveu construir, então, uma distopia, e o país que estaria sendo governado por aquele hipotético Demóstenes estaria caminhando, entende-se, para o autoritarismo. Pois é… Ocorre, meus queridos, que Aiatoelio não precisa fantasiar para colher sinais de que há algo errado com a democracia que está aí. Ele não precisa lucubrar sobre o que não virá quando o que já veio lhe fornece elementos de sobra para questionar a qualidade das nossas instituições e da nossa cultura democrática. Vamos ver?

Pensem que futuro teria um país que, para realizar um torneio internacional de futebol, criasse uma legislação especial, paralela, para contratar obras que torram alguns bilhões de dinheiro público.

Pensem com seria vexatório que esse país tivesse de criar leis ad hoc até para regular o álcool nos estádios.
Pois esse país existe; é de verdade. E não é uma criação “da direita” — não, ao menos, do que Gaspari chama “direita”.

Pensem que futuro teria um país em que o presidente da República arbitrasse pessoalmente, contra a lei, a venda de uma operadora de telefonia à outra, mandando liberar recursos de um banco público de fomento. Efetivado o negócio, esse presidente, então, determinaria a adaptação da lei à transação feita.

A empresa compradora seria a mesma que teria feito do filho desse presidente, um ex-monitor de jardim zoológico, um próspero empresário.
Pois esse país existe; é de verdade. E não é uma criação “da direita” — não, ao menos, do que Gaspari chama “direita”.

Pensem que futuro teria um país em que criminosos confessassem que a campanha eleitoral do presidente da República foi financiada com dinheiro ilegal e paga, em dólares, no exterior, numa conta secreta. Descobrir-se-ia, depois, que essa operação seria parte da mais formidável tramoia política do período republicano.

Nesse país, o chefe da quadrilha continuaria muito influente, mandando e desmandando na República, e alguns dos vigaristas que se envolveram na sujeira estariam eleitos.
Um deles conseguiria até presidir o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.
Pois esse país existe; é de verdade. E não é uma criação “da direita” — não, ao menos, do que Gaspari chama “direita”.

Pensem que futuro teria um país em que a “presidenta” da República se vê obrigada a demitir seis ministros sob suspeita de corrupção em cinco meses — nomes que ela própria teria escolhido. Agora pensem num pais em que a evidência, pois, de desmandos se tornasse um ativo da governanta, uma prova de que ela realmente não condescende com o “malfeito” — um eufemismo arranjado por vigaristas para nomear a corrupção.
Pois esse país existe; é de verdade. E não é uma criação “da direita” — não, ao menos, do que Gaspari chama “direita”.

Pensem, numa outra esfera, esta mais simbólica, que futuro teria um país em que a mãe de um presidente da República se tornasse nome de um parque público apenas porque… mãe do presidente. Esta teria sido a sua grande glória e seu grande feito para a humanidade: dar à luz o líder. Nesse país, como ridicularia pouca seria bobagem, também a sogra do Grande Líder seria nome de prédio público, batizando uma escola.
Pois esse país existe; é de verdade. E não é uma criação “da direita” — não, ao menos, do que Gaspari chama “direita”.

(...)

Já disse e repito: os eleitores de Demóstenes vão abandoná-lo porque acreditam nos valores que ele vocalizava. E os eleitores de José Dirceu estão doidos para votar nele porque também acreditam nos valores que ele encarna. Entenderam a diferença?

Baixaria é tentar reduzir ao banditismo pensamentos, convicções e crenças de gente decente, que vive uma vida honesta, que não aceita o cabresto, enquanto se faz silêncio sobre a obra de notórios… bandidos! Baixaria é tentar cassar a voz e a vontade de quem diverge.

Aqui não vai.

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