Há o temor da oposição de que Cachoeira tenha feito um acordo de delação premiada que preserve o PT e o governo, tanto é que o ex-ministro de Lula, o mesmo que orientou o ex-presidente para se safar do processo do Mensalão, é o advogado de defesa do bicheiro.
Precisa ser muito ingênuo, desmemoriado ou mau-caráter, tanto quanto seus autores, para cair na rede de intrigas que pretende incutir na opinião pública a ideia da "farsa do mensalão".
Como alguém poderia esquecer que o Procurador Geral da República denunciou os "integrantes da sofisticada organização criminosa"? O Supremo Tribunal Federal acatou a denúncia e abriu processo contra os 40 mensaleiros.
Um deles, Sílvio Pereira, fez acordo com a Justiça e cumpriu pena comunitária. Isso não seria confissão da existência do esquema do Mensalão?
Pois vejam do que o PT é capaz para garantir a impunidade dos companheiros da "Organização Criminosa", segundo o Procurador da República:
PT: CPI é contra ‘autores da farsa do mensalão’
Josias de Sousa
O desejo do PT de utilizar a CPI do Cachoeira como corneta anti-mensalão ganhou a forma de um vídeo. A peça é estrelada pelo presidente da legenda, Rui Falcão. Quem assiste fica convencido de que, para impressionar o STF, o petismo é capaz qualquer coisa, menos de uma autocrítica.
“A bancada do PT na Câmara e no Senado defende uma CPI para apurar esse escândalo dos autores da farsa do mensalão”, diz o campanheiro a alturas tantas. O linguajar faz lembrar um José Dirceu de novembro de 2010.
Na bica de passar a faixa à sucessora, Lula recebeu para o café da manhã aquele que a Procuradoria chamou de “chefe da quadrilha”.
Na saída do Alvorada, Dirceu disse: longe da Presidência, Lula vai se dedicar a desmontar “a farsa do mensalão.”
Decorridos 16 meses do vaticínio, continuam vivos na memória os personagens (Valérios, Delúbios, Jeffersons, Dirceus…) e o enredo (a fila do dinheiro vivo no banco, a mala do PTB, a grana do Duda Mendonça no exterior…).
Num instante em que o petismo se move no Congresso para ajustar a CPI às suas conveniêcias, o companheiro Falcão fala de fantasmas: “Está em andamento uma verdadeira operação abafa”, declara no vídeo.
Não dá nome às assombrações: “…setores políticos e veículos de comunicação tentam a qualquer custo impedir que se esclareça plenamente toda a organização criminosa montada por Carlinhos Cachoeira em conluio com o senador Demóstenes…”
Falcão não diz. Mas quem conduz as investigações é a Polícia Federal do governo petista.
Uma corporação submetida ao comando do grão-petê José Eduardo Cardozo. Estaria o doutor metido com a turma do “abafa”?
Falcão bica os “criminosos e falsos moralistas”. Mas só os dos outros. Cita o ‘ex-demo’ Demóstenes Torres sem mencionar o deputado Rubens Otoni, um petista goiano que também molhou a mão na cachoeira.
Fala que o “esquema chega” ao governador tucano Marconi Perillo (GO) e esquece de recordar que também faz escala no governo petista de Agnelo Queiroz. (DF).
O companheiro intima a tropa: “É preciso que a sociedade organizada, centrais sindicais, os movimentos populares, os partidos políticos comprometidos com a luta contra a corrupção, como é o caso do PT [Heim?!] se mobilizem para impedir a operação abafa.”
Um partido que aposta na mobilização dos sindicatos e olha ao redor sem enxergar o próprio umbigo acha que pode tudo, inclusive ressuscitar mortos no plenário do STF.
Na CPI, com alguma sorte, o PT pode até descobrir o quanto há de Cachoeira na sua ruína. No Supremo, vai precisar de algo mais. Toda arapongagem seria inútil se não existisse a matéria prima.
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