DORA KRAMER
Boa parte das análises sobre o aumento da avaliação positiva da presidente da República na última pesquisa do Ibope (77% contra 72% na anterior) atribui o fato ao recente confronto entre a maneira de Dilma tratar seus aliados no Congresso e a forma como eles gostariam de ser tratados.
Na mesma pesquisa, porém, apenas 4% dos consultados disseram ter tomado conhecimento das escaramuças. Ora, se tão ínfima parcela prestou atenção à chamada "crise com a base aliada", pela lógica não se poderia dar tanto peso ao contraponto entre Executivo e Legislativo no cálculo da apreciação popular à presidente.
O mais provável é que não haja uma ligação tão direta assim entre uma coisa e outra, bem como os índices relacionados à pessoa da presidente não refletem a alta desaprovação (60% em média) ao modo de o governo lidar com a saúde, educação, segurança pública e cobrança de impostos.
Existe a insatisfação pontual que, no entanto, não prejudica a sensação de satisfação geral.
Muito embora o governo considere que o resultado da pesquisa esteja ligado à percepção de atuação ética rigorosa e por isso se sinta injustiçado quando se apontam equívocos no modo de Dilma se relacionar com o Congresso.
Os políticos, por sua vez, dizem que se sentem "usados" por ela para construir boa imagem junto ao público. De onde se conclui que concordam com a tese de que a presidente "cresce" na proporção direta ao "decréscimo" da confiança no Parlamento.
É uma visão parcial da cena, cuja consequência pode levar ambas as partes a conclusões deformadas sobre seus respectivos erros e acertos.
O governo a não arrumar o que precisa ser arrumado, fazendo da dinâmica do conflito permanente um modo de vida, e o Congresso a se encolher ainda mais na ilusão de que estará vacinado contra a indiferença indignada que lhe dedica a população caso se submeta aos ditames da popularidade.
(continua)
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