A venda da Delta é inexplicável por si.
Por Reinaldo Azevedo
O grupo JBS já definiu o novo presidente da Delta, enquanto aguarda uma “rigorosa auditoria”. Sei…
Há coisas
que são, em si, inexplicáveis, por mais que se tente dar nó no verbo.
Uma delas é essa compra, a toque de caixa, da Delta pelo grupo JBS, de
que o BNDES — você, leitor amigo, orgulhe-se! — detém 31,4% das ações. O
Brasil, reza velho adágio, não é para amadores.
Da noite para o dia,
todos seremos sócios da construtora de Fernando Cavendish.
As farras em
Paris são dele; os problemas da sua empresa serão nossos!
Por que é, em si, inexplicável todo esse procedimento?
A resposta é simples: a
auditoria nos contratos que a Controladoria Geral da União mandou fazer
é para valer, ou tudo não passa de mais uma tática de despiste para
passar a impressão de que algo está sendo investigado?
Venham cá: e se a Controladoria não gostar do que encontrar, como parece (ou parecia…) ser o mais provável? Isso significa que o BNDES será sócio de uma empresa considerada inidônea?
Não
se vai esperar nem o parecer da CGU? Ou, pior do que isso, já se tem o
parecer da CGU antes mesmo que se conclua a apuração dos fatos?
Pior ainda:
em tese, ninguém sabe que complicações poderiam advir para a Delta de
uma CPI em andamento. Que a construtora está enrolada com Carlinhos
Cachoeira, eis uma evidência, não é matéria de julgamento. Então o grupo
JBS, tendo o BNDES como sócio, entra numa dessa sem saber o que vem
pela frente na comissão?
Ou, para arremate dos males, já tem o
compromisso dos governistas de que a Delta será preservada na
investigação?
(...)
O governo
tenta fingir distância do imbróglio, mas esse discurso foi desmoralizado
por José Batista Júnior, um dos donos da JBS. Chamou, em entrevista à
Folha, esse suposto distanciamento de “conversa de bêbados” e deixou
claríssimo que o Planalto acompanha, sim, tudo de perto.
Darei um salto
interpretativo, e vocês avaliem aí se estarei sendo arbitrário: é
evidente que ele está afirmando que só fará negócio se tiver garantias
oficiais.
Há muito
tempo não vejo uma traficância feita a céu tão aberto.
A justificativa é
nobre: “Precisamos cuidar dos 30 mil empregos…” Balela! Como as obras
são públicas e precisam ser tocadas, se os empregados saíssem da Delta,
iriam para outra construtora ou empreiteira. Estamos, isto sim, é
constatando que porcaria é termos um “estado-patrão”. Seus controladores
da hora, o governo, fazem o que bem entendem, sem dar satisfações a
ninguém.
Está na hora
de a imprensa fazer uma grande reportagem-balanço sobre os
megaganhadores da era lulo-petista, identificando quanto a sua
consolidação ou crescimento custaram aos cofres públicos. Esse período
transferiu, certamente, alguma renda aos muito pobres, como está dado —
processo que vem de longe. Mas ninguém levou tanto como os muito ricos.
Chegou a hora de identificar quem são os “lulo-burgueses”.
Cumpre não
esquecer: quando a Oi comprou a Brasil Telecom, de Daniel Dantas —
contra a Lei Geral de Telecomunicações —, Lula determinou que o BNDES
financiasse a operação antes mesmo que ela fosse legal. A lei permitindo
a compra foi mudada só depois do acordo entre as partes.
Foi ali que
cravei a máxima sobre o capitalismo à moda petista: no mundo
democrático, os negócios são feitos de acordo com a lei; no Brasil
petista, as leis são feitas de acordo com os negócios.
O petismo
prometeu revolucionar o capitalismo. Está cumprindo a promessa: sob a
sua gerência, o modelo está virando um “negócio de famiglia“.
Nenhum comentário:
Postar um comentário