MARCO ANTONIO VILLA
(Este texto publiquei a 4 anos atrás. Deu uma enorme polêmica. Com a
instalação da Comissão da Verdade acho recomendável a republicação.)
Militantes de grupos de luta armada criaram um discurso eficaz. Quem questiona "vira" adepto da ditadura. Assim, evitam o debate.
A LUTA armada, de tempos em tempos, reaparece no noticiário. Nos últimos
anos, foi se consolidando uma versão da história de que os
guerrilheiros combateram a ditadura em defesa da liberdade. Os militares
teriam voltado para os quartéis graças às suas heróicas ações.
Em um
país sem memória, é muito fácil reescrever a história.
É urgente
enfrentarmos essa falácia.
A luta armada não passou de ações isoladas de
assaltos a bancos, seqüestros, ataques a instalações militares e só.
Apoio popular? Nenhum. O regime militar acabou por outras razões.
Argumentam
que não havia outro meio de resistir à ditadura, a não ser pela força.
Mais um grave equívoco: muitos dos grupos existiam antes de 1964 e
outros foram criados logo depois, quando ainda havia espaço democrático
(basta ver a ampla atividade cultural de 1964-1968). Ou seja, a opção
pela luta armada, o desprezo pela luta política e pela participação no
sistema político e a simpatia pelo foquismo guevarista antecedem o AI-5
(dezembro de 1968), quando, de fato, houve o fechamento do regime.
O
terrorismo desses pequenos grupos deu munição (sem trocadilho) para o
terrorismo de Estado e acabou usado pela extrema-direita como pretexto
para justificar o injustificável: a barbárie repressiva.
Todos os
grupos de luta armada defendiam a ditadura do proletariado. As eventuais
menções à democracia estavam ligadas à "fase burguesa da revolução".
Uma espécie de caminho penoso, uma concessão momentânea rumo à ditadura
de partido único.
Conceder-lhes o estatuto histórico de principais
responsáveis pela derrocada do regime militar é um absurdo.
(...)
Os militantes dos grupos de luta armada construíram
um discurso eficaz. Quem questiona é tachado de adepto da ditadura.
Assim, ficam protegidos de qualquer crítica e evitam o que tanto temem: o
debate, a divergência, a pluralidade, enfim, a democracia. Mais:
transformam a discussão política em questão pessoal, como se a
discordância fosse uma espécie de desconsideração dos sofrimentos da
prisão.
(...)
Um bom caminho para o país seria a
abertura dos arquivos do regime militar. Dessa forma, tanto a ação
contrária ao regime como a dos "defensores da ordem" poderiam ser
estudadas, debatidas e analisadas. Parece, porém, que o governo não
quer. Optou por uma espécie de "cala-boca" financeiro. Rentável, é
verdade.
Injusto, também é verdade. Tanto pelo pagamento de
indenizações milionárias a privilegiados como pelo abandono de centenas
de perseguidos que até hoje não receberam nenhuma compensação.
(...)
Íntegra AQUI.
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