E o caso curioso do navio que abandona os ratos
Reinaldo AzevedoNa quinta-feira, dia 17, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), membro da CPI do Cachoeira, violentou a língua e o decoro e mandou aquela mensagem ao governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio, que já se tornou um clássico: “A relação com o PMDB vai azedar na CPI. Mas não se preocupe, você é nosso, e nós somos teu”.
Vai figurar nos próximos livros aprovados pelo MEC, ao lado de “nós pega os peixe, mas proteje (com “j”, claro!!!) os tubarão”. No dia seguinte, o Diretório Nacional do PT, reunido em Porto Alegre, aprovou uma “Resolução Política”.
Pode-se ler o seguinte trecho:
“(…)
A organização criminosa comanada pelo contraventor Carlos Cachoeira
atuava dentro das estruturas do Estado de Goiás, governado por Marconi
Perillo, espalhando seus tentáculos nas instituições dos poderes
constituídos de outros estados do Brasil.
Os fatos revelados pelas citadas operações da PF reforçam a urgência de reformas de fundo no sistema político e nas instituições nacionais, especialmente o financiamento público das campanhas eleitorais, com mais fiscalização e transparência em todas as esferas da política. A CPMI, ao levar a bom termo sua missão, dará sua contribuição ao incessante combate à corrupção travado pelos presidentes Lula e Dilma.”
Os fatos revelados pelas citadas operações da PF reforçam a urgência de reformas de fundo no sistema político e nas instituições nacionais, especialmente o financiamento público das campanhas eleitorais, com mais fiscalização e transparência em todas as esferas da política. A CPMI, ao levar a bom termo sua missão, dará sua contribuição ao incessante combate à corrupção travado pelos presidentes Lula e Dilma.”
A resolução,
por óbvio, não fala em Agnelo Queiroz (PT), governador do Distrito
Federal, e em Sérgio Cabral.
Enquanto era redigida, PT e PMDB acertavam
os ponteiros para tirar a Delta nacional e Fernando Cavendish do centro
das investigações. Também ao ainda dono da Delta se poderia disparar um
torpedo: “Não se preocupe; você é nosso, e nós somos teu”.
A edição da
VEJA desta semana explicou os cuidados com o empresário: ele mandou
alguns emissários seus recomendar prudência aos digníssimos
parlamentares e partidos. Segundo contas que circulam em seu mundo, a
Delta doou R$ 100 milhões para campanhas eleitorais nos últimos anos. E
tudo por aquele método consagrado pelo grande moralista Delúbio Soares:
“recursos não contabilizados”.
(...)
Há indícios de superfaturamento, de licitações
de meia-tigela, de pagamento de propina pura e simples… de ASSALTO AOS
COFRES PÚBLICOS.
Uma das mentiras do PT
Uma das mentiras do PT em sua resolução é atribuir ao financiamento privado de campanha a lambança do esquema Cachoeira-Delta.
Uma das mentiras do PT em sua resolução é atribuir ao financiamento privado de campanha a lambança do esquema Cachoeira-Delta.
Mesmo que fosse público, o que impediria o grupo de fazer o que fez?
Estivesse o Tesouro a arcar com o custo das eleições (indiretamente, em
período eleitoral, mais de R$ 600 milhões vão para os partidos), a
Delta, com seus métodos, não seria a campeã das obras do PAC, por
exemplo?
O financiamento público, como quer o PT, só vai aumentar o
assalto ao erário sem coibir minimamente o caixa dois. Aliás, qualquer
pessoa que tenha frequentado o nível “Massinha I” das aulas de lógica
vai concluir que, garantida a impunidade (como querem muitos na CPI) e
proibidas as doações privadas, os ditos “recursos não contabilizados”
vão é aumentar, certo?
Ou os lobistas, movidos pelo mais severo civismo,
decidirão: “Não, gente! Agora há financiamento público de campanha.
Vamos ficar fora das eleições”?.
(...)
Não foi a única…
Não foi a única vigarice da resolução. Num outro trecho, que vem destacado em negrito no original, encontramos estas belas palavras:
“É fundamental mobilizarmos a sociedade em defesa de uma ampla apuração de todas as denúncias relatadas nas operações da PF, bem como de todas as ramificações da organização criminosa, doa a quem doer, pois ninguém, seja na área pública ou privada, pode situar-se acima da lei. Entre as denúncias que precisam ser apuradas a partir de elementos probatórios em mãos da CPMI estão as relações entre o crime organizado e alguns órgãos de imprensa...
Não foi a única vigarice da resolução. Num outro trecho, que vem destacado em negrito no original, encontramos estas belas palavras:
“É fundamental mobilizarmos a sociedade em defesa de uma ampla apuração de todas as denúncias relatadas nas operações da PF, bem como de todas as ramificações da organização criminosa, doa a quem doer, pois ninguém, seja na área pública ou privada, pode situar-se acima da lei. Entre as denúncias que precisam ser apuradas a partir de elementos probatórios em mãos da CPMI estão as relações entre o crime organizado e alguns órgãos de imprensa...
Como? É uma
pena para o PT e uma sorte para o Brasil que os petistas não possam
enviar a seguinte mensagem à imprensa independente: “Você é nossa, e nós
somos teus” (corrijo a língua de Vaccarezza, já que é impossível
corrigir os hábitos).
Dado o espetáculo que se ensaia na CPI, os
petistas resolveram — e quem está surpreso? — atacar o jornalismo!!!
“Relação entre o crime organizado e alguns órgãos de imprensa?” Quais?
Jornalistas que se prezam recorrem, sim, muitas vezes, a fontes do
submundo — com o qual alguns políticos fazem negócios, inclusive os do
PT — para denunciar o assalto aos cofres públicos. Querer intimidar a
imprensa é fazer o jogo dos bandidos… Não! Errei! Querer intimidar a
imprensa é trabalho de bandido que se beneficia dessa promiscuidade.
Recorrendo
às mesmas acusações que Goebbels fazia à “imprensa dos judeus” na
Alemanha hitlerista, o PT deixa claro que quer perseguir apenas o mau
jornalismo, sem agredir a liberdade de imprensa.
Ah, bom! E qual é o
“mau jornalismo”? Necessariamente aquele que denuncia também as
falcatruas de petistas. Ora, se fosse bom, só exaltaria as qualidades do
petismo, certo?
Íntegra AQUI.
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