Merval Pereira
Até parece que o
deputado Miro Teixeira, do PDT do Rio, estava adivinhando quando, antes
mesmo de a CPI começar formalmente seus trabalhos, anunciou que um dos
seus objetivos principais deveria ser a garantia de que o dinheiro
eventualmente desviado dos cofres públicos fosse devolvido. Por isso,
encaminhou proposta de indisponibilidade dos bens de pessoas e empresas
suspeitas de envolvimento no escândalo.
Num país em que o dinheiro
roubado dos cofres públicos quase nunca é restituído, essa seria uma
decisão fundamental da CPI.
(...)
Com o anúncio
da venda da empreiteira para uma empresa de outro ramo de negócio que
tem o BNDES como sócio — a J&F Participações é uma holding que
controla a empresa de alimentos JBS, a de higiene e limpeza Flora, a de
papel e celulose Eldorado Brasil e o banco Original —, Miro pediu
imediatamente ao Ministério Público Federal providências para impedir a
venda, com o objetivo de garantir que, em caso de condenação por
corrupção, o dinheiro possa ser restituído.
Para tanto, pediu que
fossem relacionados e tornados indisponíveis todos os bens da
empreiteira, para evitar “essencialmente que bandidos encontrem no crime
uma atividade lucrativa e vantajosa”.
O procurador regional da
República Nívio de Freitas Silva Filho requereu a abertura de inquérito
civil público para apurar possíveis irregularidades na venda da
construtora Delta ao grupo J&F, e o pedido será analisado pela área
de Patrimônio Público, que pode estar sendo afetado já que o BNDES, um
banco público, tem 30% da empresa.
O temor é que a venda faça
parte da desconstrução da empreiteira que estava em curso desde que a
CPI foi instalada, com o objetivo de tentar fazer com que ela
desaparecesse do noticiário e, pelo visto, da vida real também.
A
Delta já saíra das obras do Maracanã e das obras da Petrobras, como que
para se desligar dos governos estadual do Rio e federal, em que, ao
final de 2011, era a principal fornecedora do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), com contratos avaliados em mais de R$ 2 bilhões.
(...)
“Se a Delta fez
transações com empresas-fantasmas, se envolveu em negócios escusos, como
é que a solução é vendê-la? Eles metem o dinheiro no bolso?”, questiona
o deputado Miro Teixeira, que pediu ao MPF o cancelamento do negócio
como “medida assecuratória”.
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