sexta-feira, 25 de maio de 2012

SINUCA

Por Arthur Virgílio

O presidente do Banco Central erra em seus diagnósticos. Fica-lhe impossível, então, receitar a medicação correta.
Em entrevista a O Globo do último sábado, Alexandre Tombini disse que o real “andou em linha com as demais moedas”. Ou seja, teria sofrido desvalorização na mesma intensidade das outras componentes de uma cesta contendo as 18 moedas mais negociadas no mundo.

Isso é absolutamente inverídico: de janeiro de 2011 até hoje (mandato de Dilma), o real experimentou desapreciação de mais de 20% diante do dólar, em termos nominais, considerando-se US1,00 =R$2,08.

É a moeda de pior desempenho, no cotejo com as outras 17, segundo a Bloomberg.

Basta dizer que o euro, às voltas com crise sufocante, desvalorizou-se 5%. E o peso colombiano se apreciou em 4%.
Na comparação anual, o real também apresenta a performance mais negativa. Sua desvalorização, desde janeiro, beira11%. A segunda pior é o dólar australiano, que conheceu desvalorização de 3,8% até 22 deste mês. As moedas do México e Canadá apresentam desempenho levemente positivo e as da Colômbia e Turquia valorizaram-se, respectivamente, 6,1% e 2,6%.

Por que essa alta do dólar de agora nos afeta tanto?

Ora, porque até antes da crise de 2008 – que deu sinal com a quebra do Lehman Brothers – quando o real se vinha apreciando constantemente, os empresários estavam tranquilos: o mundo crescia e os preços das commodities viviam nas alturas. O real atingiu seu maior valor frente ao dólar na primeira semana de agosto de 2008, cotado a US$1,00 = R$1,5598.

Logo, porém, a crise se estabeleceu e derrubou os preços das commodities. As bolsas despencaram. As moedas perderam valor diante do dólar. Bancos quebraram. A relação cambial atingiu US1,00 =R$2,30. Parecia o fim do mundo.
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Lembro que, na semana que antecedeu a primeira eleição de Lula (o chamado risco Lula inquietava os mercados, os agentes econômicos), a relação chegou a perigosos US1,00 = R$3,95. Daí em diante, o real se valorizou continuadamente, com pequena queda em meados de 2004 (época do mensalão) e ao longo do ultimo trimestre de 2008, no rastro da crise mundial que começava.

Nesses anos de altos preços de commodities e fluxo financeiro abundante, o câmbio sempre foi aliado do governo: de janeiro de 2003 até este momento o real se apreciou em 70%.
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Bem sabemos que, quando a moeda se valoriza, a sensação de riqueza das famílias aumenta, a inflação fica mais contida (produtos chegam mais baratos ao país, dando um freio na especulação interna de preços); pessoas viajam para o exterior e notam que as coisas lhes saem mais baratas; empresários importam máquinas e matérias primas a custos reduzidos.

Mas isso deveria ter vindo na companhia de reformas estruturais, como a trabalhista e a tributária, e de investimentos em infraestrutura. O governo limitou-se a acumular reservas, a custo altíssimo, deixando de investir em estradas, portos, ferrovias, hidrovias, aeroportos operacionais.

A inflação volta a incomodar. Mesmo maquiada, sempre acima de 5% por tempo prolongado, junto a crescimento pífio (2,7% em 2011 e menos de 3% em 2012: acorda ministro Mantega!) ela incomoda mesmo. O governo perde o encanto. Demonstra que não sabe o que faz.

Eis as dificuldades: crescimento baixo com inflação elevada. Para falsamente enfrenta-las, o governo se enrola em decretos e medidas antiquados e erráticos.

As mexidas que Lula fez, em 2010, no afã de eleger sua candidata a qualquer preço, desorganizaram a economia.

Se a dupla Dilma-Mantega continuar no piloto automático, não garantirá e nem compatibilizará crescimento econômico com estabilidade.

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