Não é golpe coisa nenhuma.
Fosse no Brasil, ele já teria sido afastado do cargo
O governo do
Paraguai anunciou na madrugada que o presidente do Paraguai, Fernando Lugo,
recorrerá nesta manhã à Justiça para tentar impedir que o Senado vote ainda hoje
o seu impeachment. Entrará com uma “ação de inconstitucionalidade” afirmando
que, em razão do tempo exíguo, está tendo cerceado o seu direito de defesa.
Vamos ver. É boa a chance de que consiga, até porque a Justiça deve levar em
conta a forte pressão dos países da Unasul, cuja presidência rotativa está
justamente com o Paraguai.
Sustentar que está
em curso um golpe no Paraguai é conversa de tolos ou de oportunistas.
O governo
brasileiro entrou nessa. Segundo qual critério?
Reconhece os termos da
Constituição daquele país e os poderes do seu Parlamento ou não?
Os ditos “governos populares” da América Latina agora deram
para chamar as instituições democráticas de “golpistas” quando elas lhes põem
freios. Os militares de antigamente rasgavam as leis no continente em nome da
ordem. Os populistas pretendem rasgá-las em nome do povo.
É até desejável que
Lugo ganhe mais tempo para a sua defesa. Mas que fique claro: o Parlamento não
está transgredindo uma só linha da legalidade. Quem o fez, infelizmente, foi o
presidente ao tolerar a ação de bandidos disfarçados de camponeses que lutam por
terra. Segue o texto que escrevi às 21h05 de ontem.
(...)
(...)
Lugo, o
desastradoUm confronto entre sem-terra paraguaios e as forças de
segurança deixou 17 mortos na sexta-feira passada em Curuguaty, a 250 km de
Assunção. Policias desarmados foram garantir a reintegração de posse de uma área
invadida e foram recebidos a bala. Seis policiais desarmados foram assassinados
pelos ditos sem-terra. Na reação, as forças de segurança mataram 11 homens que
lutavam ao lado dos invasores.
A exemplo do que
acontece no Brasil, os sem-terra paraguaios pertencem a uma organização
paraoficial. Lugo mantém estreita ligação com os líderes do movimento, que
cobram dele, no entanto, ações mais radicais em favor do que entendem ser a
reforma agrária necessária. Querem o que chamam “fim do latifúndio” e a divisão
das propriedades produtivas. A Via Campesina — que ajudou a depredar o estande
da CNA na Rio+20 — está lá, com os “companheiros paraguaios”.
Lugo não endossa
explicitamente a violência dos sem-terra, mas também tem sido frouxo na
repressão às ações do grupo. Os chamados “brasiguaios” — agricultores
brasileiros que prosperaram no Paraguai — estão entre os alvos da turma. Já se
detectou a presença de “sem-terra” brasileiros lutando contra os brasiguaios. No
Paraguai, o sonho de muitos dos nossos extremistas se realizou: os sem-terra se
armaram para valer e travam suas disputas a bala.
O prolífico ex-padre
(Lugo já reconheceu dois filhos, concebidos na vigência de seu voto de
castidade), que se dividia entre o púlpito e o leito pouco casto com
impressionante desenvoltura, sonhou fazer a mesma coisa na política: foi eleito
para defender as leis e a Constituição, mas deu guarida a um movimento violento,
que invade propriedades produtivas, mata e pratica atos explícitos de terrorismo
para fazer “justiça social”. O resultado se conta em mortos.
Cá no meu tribunal
pessoal, merece o impeachment por ser o responsável último pela elevação de
tensão no campo e por ter usado o espaço legal e institucional de que dispõe
para solapar a legalidade e a institucionalidade. Mas é o Senado paraguaio que
vai decidir. E vai decidir segundo a Constituição. A menos que Dilma Rousseff,
por intermédio de Antônio Patriota, dê um golpe no Parlamento do
país.
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